A propósito do debate sobre a candidatura "Patriótica e de Esquerda" do candidato do PCP, Francisco Lopes. Uma resposta a uma entrada no blogue "5 Dias".
O patriotismo é reaccionário, é pensar enquadrado nos cânones da burguesia.
Perdoem-me a extensão, aí vai:
A génese do Capitalismo é a acumulação baseada num crescimento contínuo que não respeita o folclore das bandeiras colocadas em cima de linhas divisórias resultantes de batalhas passadas para satisfazer os interesses senhoriais e reais. O Capitalismo há muito que ultrapassou isso, as fronteiras são virtuais, são a cerca ideológica onde se guardam os idiotas que pensam que mandam nalguma coisa com mais importância que a gramática que utilizam. O Capitalismo está-se marimbando para “as brumas da memória” a não ser aquelas que assustaram de morte a sua autoridade. Vai e chega a todo o lado, a todo o sítio, invade tudo. É a sua natureza. Não por malfeitoria, como explicou Marx, mas por uma questão de sobrevivência. O Capitalismo só pode crescer, não pode parar de crescer sob pena de definhar e ser inferior ao tamanho da boca de outro mais poderoso, porque não há piedade na economia da selva.
Concorrencial, o Capitalismo também consegue ser “solidário”, mas na medida em que a afectação de um interesse concorrente resulte no seu próprio prejuízo. Um universalizador de “standards” ou defensor de roscas anacrónicas se se tratar de defender os parafusos que lhe sustêm a máquina. Ameaçado economicamente, defende-se com a política, com a guerra, reclama o patriotismo de antanho, tal como um merceeiro que sonha esmagar todos os concorrentes clama pela defesa do comércio tradicional quando sente um hiper às portas.
O Capitalismo inventa novos negócios que ultrapassem as coisas. Já não apenas os produtos e os serviços a eles ligados, bem mais do que a produção de alimentos e a sua distribuição, também a cultura, os tempos livres, a saúde, a morte.
O Capitalismo dá novos valores às coisas, todos se traduzem em dinheiro. Todas as nossas necessidades físicas, reais, são mercado, mas não chega: o Capitalismo investe em necessidades que não imaginamos ter, porque o objectivo do Capitalismo é satisfazer as nossas necessidades criando novas necessidades sem nunca satisfazer nenhuma. O Capitalismo é a Insatisfação Permanente.
A burguesia é a galinha e o ovo do Capitalismo. Tal como os senhores da velha ordem que derrubou, a burguesia procura convencer o resto da sociedade de que o fim do seu reino significará o fim do mundo. O mundo da burguesia, retenhamos, não é uma bola azul perdida numa imensidão de possibilidades por descobrir, é quadricolor, tricolor, bicolor, unicolor, estampado num farrapo de subjugação das vontades aos seus interesses. A bandeira é o ceptro da burguesia, o salariato o seu chicote.
Tal como a chuva, o vento, o sol, o proletariado não tem pátria. O ar que respira não é alemão, francês ou inglês, é o ar poluído da fábrica, como dizia Marx. No melhor, o ar refinado pelos filtros de um aparelho de ar condicionado projectado na Dinamarca e montado em Espanha com peças fabricadas na China.
Hoje, tal como desde sempre, a luta do proletariado só vingará se este se libertar das cadeias obscurantistas do patriotismo, unindo-se numa única nação à escala global, tal como aqueles soldados russos e alemães dos idos de 1918 que se ergueram da lama das trincheiras e se encontraram na “terra de ninguém” para cuspir sobre as ordens dos seus generais que os mandavam matar-se uns aos outros, reinventando a Comuna de Paris na Revolução Russa e nos Conselhos Operários de Munique.
Os produtores não têm mais que a sua solidariedade para opor à voracidade da globalização do lucro, a internacionalização das suas lutas é a saída. Que a besta não tenha onde se esconder!
E, para começar, neste continente velho mundo: que à bandeira estrelada a ouro outra surja, feita da cor da memória do sangue dos nossos, limpa da lama do terror burocrático por onde a arrastaram. Com uma nova estrela, não de pontas mas de luz. Sempre a velha procura da Luz.
A centelha de esperança de camponeses iletrados motivados pela fome não chegou, ficou provado. Desta feita será o Conhecimento que o proletariado arrancou da sua quota-parte do falecido Estado Social pós-morticínio.
Em tempo algum na História “os de baixo” tiveram tanta preparação técnica para governar sem terem de se sujeitar ao conhecimento dos outros, ao apodrecimento por dentro que isso significou do seu débil poder, até o perderem de todo. Quando tomar o seu destino nas suas próprias mãos, o proletariado deixará de ser a nação global, restará o que importou desde sempre: a Humanidade.
Entretanto, o que importa é a Classe, os partidos e as associações sindicais são apenas um seu instrumento, não o contrário.
A propósito do debate sobre a candidatura "Patriótica e de Esquerda" do candidato do PCP, Francisco Lopes. Uma resposta a uma entrada no blogue "5 Dias".
O patriotismo é reaccionário, é pensar enquadrado nos cânones da burguesia.
Perdoem-me a extensão, aí vai:
A génese do Capitalismo é a acumulação baseada num crescimento contínuo que não respeita o folclore das bandeiras colocadas em cima de linhas divisórias resultantes de batalhas passadas para satisfazer os interesses senhoriais e reais. O Capitalismo há muito que ultrapassou isso, as fronteiras são virtuais, são a cerca ideológica onde se guardam os idiotas que pensam que mandam nalguma coisa com mais importância que a gramática que utilizam. O Capitalismo está-se marimbando para “as brumas da memória” a não ser aquelas que assustaram de morte a sua autoridade. Vai e chega a todo o lado, a todo o sítio, invade tudo. É a sua natureza. Não por malfeitoria, como explicou Marx, mas por uma questão de sobrevivência. O Capitalismo só pode crescer, não pode parar de crescer sob pena de definhar e ser inferior ao tamanho da boca de outro mais poderoso, porque não há piedade na economia da selva.
Concorrencial, o Capitalismo também consegue ser “solidário”, mas na medida em que a afectação de um interesse concorrente resulte no seu próprio prejuízo. Um universalizador de “standards” ou defensor de roscas anacrónicas se se tratar de defender os parafusos que lhe sustêm a máquina. Ameaçado economicamente, defende-se com a política, com a guerra, reclama o patriotismo de antanho, tal como um merceeiro que sonha esmagar todos os concorrentes clama pela defesa do comércio tradicional quando sente um hiper às portas.
O Capitalismo inventa novos negócios que ultrapassem as coisas. Já não apenas os produtos e os serviços a eles ligados, bem mais do que a produção de alimentos e a sua distribuição, também a cultura, os tempos livres, a saúde, a morte.
O Capitalismo dá novos valores às coisas, todos se traduzem em dinheiro. Todas as nossas necessidades físicas, reais, são mercado, mas não chega: o Capitalismo investe em necessidades que não imaginamos ter, porque o objectivo do Capitalismo é satisfazer as nossas necessidades criando novas necessidades sem nunca satisfazer nenhuma. O Capitalismo é a Insatisfação Permanente.
A burguesia é a galinha e o ovo do Capitalismo. Tal como os senhores da velha ordem que derrubou, a burguesia procura convencer o resto da sociedade de que o fim do seu reino significará o fim do mundo. O mundo da burguesia, retenhamos, não é uma bola azul perdida numa imensidão de possibilidades por descobrir, é quadricolor, tricolor, bicolor, unicolor, estampado num farrapo de subjugação das vontades aos seus interesses. A bandeira é o ceptro da burguesia, o salariato o seu chicote.
Tal como a chuva, o vento, o sol, o proletariado não tem pátria. O ar que respira não é alemão, francês ou inglês, é o ar poluído da fábrica, como dizia Marx. No melhor, o ar refinado pelos filtros de um aparelho de ar condicionado projectado na Dinamarca e montado em Espanha com peças fabricadas na China.
Hoje, tal como desde sempre, a luta do proletariado só vingará se este se libertar das cadeias obscurantistas do patriotismo, unindo-se numa única nação à escala global, tal como aqueles soldados russos e alemães dos idos de 1918 que se ergueram da lama das trincheiras e se encontraram na “terra de ninguém” para cuspir sobre as ordens dos seus generais que os mandavam matar-se uns aos outros, reinventando a Comuna de Paris na Revolução Russa e nos Conselhos Operários de Munique.
Os produtores não têm mais que a sua solidariedade para opor à voracidade da globalização do lucro, a internacionalização das suas lutas é a saída. Que a besta não tenha onde se esconder!
E, para começar, neste continente velho mundo: que à bandeira estrelada a ouro outra surja, feita da cor da memória do sangue dos nossos, limpa da lama do terror burocrático por onde a arrastaram. Com uma nova estrela, não de pontas mas de luz. Sempre a velha procura da Luz.
A centelha de esperança de camponeses iletrados motivados pela fome não chegou, ficou provado. Desta feita será o Conhecimento que o proletariado arrancou da sua quota-parte do falecido Estado Social pós-morticínio.
Em tempo algum na História “os de baixo” tiveram tanta preparação técnica para governar sem terem de se sujeitar ao conhecimento dos outros, ao apodrecimento por dentro que isso significou do seu débil poder, até o perderem de todo. Quando tomar o seu destino nas suas próprias mãos, o proletariado deixará de ser a nação global, restará o que importou desde sempre: a Humanidade.
Entretanto, o que importa é a Classe, os partidos e as associações sindicais são apenas um seu instrumento, não o contrário.