28.9.06

"Excelência de informação"

SIC, ontem, ao almoço: "Cavaco soube da gravidez da princesa Letizia primeiro que os espanhóis" .

SIC, hoje, ao jantar: "Se descobrir vida em Marte telefone-me" (Maria Cavaco Silva para um investigador português a trabalhar em Espanha).

23.9.06

Católico-não-praticante.

Chove. Olho para o carro da frente que se enfiou à papo-seco pelo intervalo da chuva e distingo-lhe através do limpa-vidros intermitente: Motard a Bordo.

21.9.06

Nos mínimo, atirem-lhes com a Constituição às trombas!

Gestores e economistas principescamente pagos, de empresas privadas que não são propriamente conhecidas pelo respeito pelos seus “colaboradores” (muitos deles com origem no capital especulador e na banca, sectores mais que beneficiados pela falta de tributação), patrões, ou, nos casos mais rafeiros, fazedores de opinião com coluna permanente nos jornais e nas TV a soldo dos mais privilegiados da sociedade portuguesa, organizaram-se. Autodenominam-se “Compromisso Portugal” e têm o costume de parir “soluções milagrosas” para a sociedade portuguesa.

Curiosamente, sendo gestores de empresas, nem se debruçam muito sobre a eficácia do desempenho das direcções das empresas. No quadro de um país em crise permanente e em que a boa gestão não faz parte dos atributos daqueles que dirigem as empresas, habituados que estão a viver à sombra do investimento e do subsídio público, é obra. Se os trabalhadores portugueses são dos que trabalham mais horas, dos mais mal-pagos e precários, para quem sobra a culpa pelo mau estado da economia?

Os homens gostam é de botar discurso sobre o Sector Público. Para melhorar a qualidade de serviço? Népia! Para que o Estado coloque as suas funções e obrigações nas carteiras dos seus patrões.

Quando se discute o problema da sustentabilidade da Segurança Social, e os números do desemprego crescem, estes senhores propõem a redução de 200.000 funcionários públicos, como? “A redução pode ser alcançada facilitando as reformas antecipadas, estabelecendo incentivos à saída voluntária e transferindo actividades para o sector privado”.

A mesma segurança social que tem problemas em manter um nível mínimo das pensões que garanta a sobrevivência dos reformados, que já tem de pagar a reforma a muitos trabalhadores em idade activa que foram expulsos das empresas mais lucrativas (para aumentar o valor das acções e sua posterior privatização – exemplo: EDP), pode aguentar mais esta despesa?

E sobretudo: quantas “contínuas” vão faltar nas escolas cujos pais veremos nos noticiários a protestar contra a “falta de condições”? Quantos professores faltarão nas turmas onde os alunos são apenas um número elevado? Quantos minutos faltarão para ser ser atendido pelo funcionário que tem de fazer o trabalho mas também está a atender?

A solução dos mecos: privatize-se!

Pode não funcionar melhor mas dá dinheiro a alguns - e muitos e muitos gestores...

Só para quem não se lembra do estado da Educação e da Saúde quando estas eram exclusivo das escolas e dos hospitais privados. Eram (são) só para alguns.

Só para quem já se esqueceu do que a sociedade europeia avançou, quando se impôs que o Estado não seria apenas a polícia e o exército.

Foi uma conquista civilizacional. É fazer a história voltar para trás que esta gente quer.

Nos mínimo, atirem-lhes com a Constituição às trombas!


11.9.06

Ficaste parvo, pá?

Hoje no DN, Cavaco (Presidente da República):
"Como Presidente da República, sou favorável a entendimentos alargados noutras áreas [além da justiça] em particular naqueles desafios que enunciei na Assembleia da República na tomada de posse e onde se inclui a sustentabilidade da Segurança Social"

Na mesma notícia, Marques Mendes (líder do PSD):
"Disposição para o consenso": "Se o Governo, por caprichos ideológicos de esquerda que estão ultrapassados, teimar em não cooperar, quem vai perder são os trabalhadores"

Depois, Francisco Louçã (líder do Bloco de Esquerda):
A "Segurança Social, só tem dois caminhos possíveis: o da irresponsabilidade privada ou o da responsabilidade pública". Por isso, "se houver alguma negociação no sentido de privatizar a Segurança Social" ou de, como preconiza Sócrates, "aumentar a idade da reforma, nós enfrentaremos com um referendo".

A privatização da Segurança Social está na calha, talvez através de mais um acordo secreto entre o PS e o PSD. Sócrates diz que não, mas daqui a uns tempos quando dermos por isso vamos ter escalões em que os descontos dos salários mais altos nem precisam de ir para a "Caixa". Irão direitinhos para as companhias de seguros, tal como defende o PP.

Perante isto, Francisco Louçã vem defender um referendo...
Eu sei que para os lados do BE há muito quem pense que não vale a pena estar nos sindicatos, que não vale a pena combater a influência nefasta da burocracia sindical. E que não interessa contruir correntes de combate nas empresas na base de propostas de luta, como esta: unidade de todos os sindicatos e comissões de trabalhadores para o debate e votação por voto secreto de todos os trabalhadores, sindicalizados ou não, efectivos ou não, de uma Greve Geral até o governo abandonar o propósito.
Era capaz de ser a greve mais justa que eu alguma vez teria feito. Mas, enfim, viva a "democracia representativa" e o plebiscitismo!

9.9.06

Quanto mais Zorros menos Revolução

Este texto, escrito ao sabor do teclado, era para ser inserido como resposta a um post de Daniel Oliveira no seu "Arrastão", “Porque nunca deve a esquerda pôr-se nas mãos de salvadores da Pátria”. Como ficou extenso, e não quis abusar da hospitalidade, decidi deixá-lo aqui por "casa".

Contextualizando, Daniel Oliveira refere-se a uma nota do “Público” sobre a suposta pretensão do presidente venezuelano, Hugo Chávez, em fazer uma alteração legislativa que permita a um presidente ser eleito sucessivamente sem limitação do número de mandatos.
“Suposta” porque a origem identificada é o “Público”. Reserva mental? Desculpem lá, mas depois das últimas Guerras não considero o “Público” de confiança.

Todavia, como vivi uma Revolução e vi os atalhos em que certas Esquerdas se costumam enfiar, também não me admira a ideia. É partindo deste pressuposto que se me afigura o restante.

Não me incomoda a ver Hugo Chávez solidário com a Revolução Cubana, mas ao ver a forma como este pretende copiar a relação de Fidel Castro com o povo cubano temo que este confunda as conquistas da Revolução Cubana com as suas taras.

Que o presidente venezuelano procure introduzir no seu país algumas medidas que redistribuam a riqueza, que até agora só tem sido pertença de uma oligarquia intermediária dos interesses ianques na Venezuela, é algo com que simpatizo. Mesmo que o estilo não me agrade.

Não duvido, porém, que na Venezuela, entre aqueles que nunca tiveram nada, o “estilo” não será a principal preocupação. Não foi a pensar nisso que disseram “presente” quando foi necessário defender o “seu” presidente eleito do golpe militar dos “democráticos” terra-tenientes e media-tenientes.

“Deus escreve por linhas tortas”, dizem os crentes. Perante as derrotas sucessivas do movimento dos trabalhadores a nível mundial, começa a difundir-se entre alguma Esquerda a ideia de que a Revolução se pode fazer por linhas tortas. Errado. Uma Revolução nascida torta tarde ou nunca se endireita, isto quer dizer que a principal preocupação dos revolucionários deverá ser a de evitar que a torçam. A ideia de um homem providencial é torcer a Revolução.

A História demonstra que as revoluções que têm homens providencias acabam por morrer com o tutor. Ou sobrevivem, apesar do e contra o empecilho do tutor.

Com Cuba no horizonte.
As conquistas sociais que transformaram uma imensa casa de putas num dos países com maior nível de escolaridade e de saúde no mundo não podem ser desprezadas, mesmo tendo em conta a forma como o regime cubano se defende mal da ameaça imperialista.

Esconjurar a crítica política é dos aspectos em que o regime cubano desperdiça nos pés as balas que diz atirar ao inimigo. E a identificação da vida de uma Revolução com os poucos anos que um líder possa caminhar sobre a terra é outro.

Na figura débil do Fidel Castro acamado pressente-se a própria Revolução Cubana a definhar. Tragicamente não são só os "Scarfaces" de Miami que o vêem.

Perante isto, que dizer da cegueira de certa Esquerda que teima em confundir as conquistas revolucionárias com a tirania de um partido - apesar de haver exemplos suficientes que mostram o bêco aonde isso conduz? Por outro lado, que comentário à miopia dos outros que só descortinam na ilha cubana a presença tutelar de Fidel e esquecem o resto: que a muitos deserdados desta “democracia” em que vivemos basta ir para a bicha do sistema nacional de saúde para que sintamos inveja daquela “ditadura”? Uns e outros, cada um a seu modo, já deixaram de acreditar em revoluções sociais.

Voltando a Hugo Chávez.
O que pode tornar o fait-diver do “Público” no drama da Revolução Venezuelana (ainda há por aí alguém que se diga de Esquerda que ainda não se tenha apercebido de que há uma Revolução em curso na Venezuela?!) é a tentação do presidente em se sobrepor à mobilização dos explorados em cujo nome fala, que o espelho do palácio presidencial não reflicta apenas a imitação do amado Simón Bolívar, mas a da lenda do “Zorro” - aquele que se substituía aos humilhados na luta pela dignidade social, quando lhe dava na gana.

As revoluções só avançam com a Mobilização consciente do Povo - o tal que continua em Terceiro Estado - com a Democracia, que entrega ao Povo a decisão sobre os ritmos e os avanços revolucionários, com uma outra Legalidade que consagre o interesse público contra os privilégios de Classe.
E com a Liberdade, aquela que permite que seja a agressão à nova legalidade e não a opinião que se tem sobre ela que faça quem quer que seja ir para a prisão.

Parafraseando a frase conhecida, a Revolução é um assunto demasiado sério para que se deixe ao cuidado de um líder, de um grupo de comissários ou de um comité central. Já agora, de um grupo parlamentar - é também nas mãos de uma política virada sobretudo para o crescimento deste que a Esquerda não se deve colocar.

8.9.06

RTP arrisca-se a acabar com telejornal.

Diz o DN:
O prime time da RTP vai mudar já a partir da segunda-feira, dia 11. A garantia foi dada ontem por Luís Marques, administrador do operador público, na apresentação das novas apostas para a área da informação.

Na mesma conferência de imprensa, naquilo que chamam um "passo corajoso", os responsáveis da RTP afirmam pretender reduzir o Telejornal em oito a dez minutos. Luis Marinho, director de informação do canal público promete que passaremos a "ter um Telejornal com um ainda maior rigor informativo, maior diversidade e maior critério noticioso".

Cá por mim até conseguiriam reduzir ainda mais o telejornal:
- Acabando com os intervalos de publicidade no meio dos serviços noticiosos (que curiosamente aparecem quase simultaneamente nos três canais abertos);
- Fazendo desaparecer todas as "peças" em que se dramatizam notícias;
- Criando um programa dedicado exclusivamente aos fait-divers ou, no mínimo, retirando as "notícias" que acabam com um piscar de olho do Rodrigues dos Santos.

O risco desta minha proposta é que a RTP em vez de um noticiário ficaria com um flash noticioso...

Por outro lado.
Ainda me hão-de explicar o que é que as opiniões de António Vitorino têm a ver com os verdadeiros problemas da sociedade portuguesa... Equilibrar a agenda de Marcelo Rebelo de Sousa? Pluralismo? Não, dose dupla de boçalidade. Dupont & Dupont, percebem?

Em nome da "poupança nos serviços públicos", seria melhor pôr os dois num mesmo programa.
Topem: sairia mais barato, e a probabilidade de se dar de caras com um deles quando se liga para a RTP desceria 50 por cento!

3.9.06

A pau com os "estrumpfes"


Esgravatando por aí montado na "mulinha", trilhando caminhos longe dos terrenos contaminados onde a MTV planta os seus transgénicos, dei de caras com uns tipos da Noruega que baptizaram a sua banda com o nome de Gargamel” - o nome em inglês do personagem da banda desenhada de Peyo, Gasganete, o feiticeiro bronco cuja principal obsessão é conseguir apanhar os simpáticos Estrumpfes.

Os “Gargamel” “estrumpfaram” o seu primeiro álbum este ano, "Watch For The Umbles", onde se pode ouvir uma estranha mistura de um violoncelo com guitarras afirmativas sobre um excelente fundo de teclas à moda do que melhor tem feito as delícias da malta do progressivo desde os anos 70.

Alguns vêem-lhes similitudes com os norte-americanos “Discipline” e os suecos “Anekdoten”, considerados por muitos dos melhores grupos de progressivo dos últimos anos.

Julgai por vós. Podeis ouvir os Gargamel aqui. E já agora, os Discipline e os Anekdoten.

Bom proveito.


Se a estupidez conferisse grau académico...



Lido no "Jornal de Notícias", a propósito da "Marcha pelo Emprego" que o Bloco de Esquerda decidiu promover até meados deste mês:

"Os 200 participantes, quase todos de sapatos de ténis ou sandálias, bonés e bandeiras, eram na sua maioria oriundos da classe média urbana sendo poucos os operários ou mesmo cidadãos desempregados que nela participaram, talvez - segundo um dos militantes - "por terem ido à festa do Avante".

Ao longo do percurso, Louçã foi saudado e estimulado por vários transeuntes quer em Guimarães quer no caminho, que se diziam vítimas de despedimentos em empresas têxteis "viáveis" da região do Vale do Ave".


Em primeiro lugar, o número redondo: "200". De certeza que não eram 189 nem 175?
O Bloco de Esquerda terá feito questão de serem 200, nem mais nem menos, para que o (a) jornalista não tivesse de garatujar "cerca de"?

Quanto à origem social dos marchantes, nova demonstração da argúcia do (a) jornalista: o calçado, os "sapatos de ténis e sandálias", traiu a organização do Bloco e denunciou a natureza de classe dos marchantes. Onde estavam as botas de biqueira de aço e as galochas dos verdadeiros operários?

"Classe média", decidiu o (a) escriba
. Sim, porque se havia desempregados na marcha estes deveriam ir a arrastar-se pelo chão como verdadeiros "famélicos da terra".
E
"urbana": nenhum daqueles tipos de ténis tinha aspecto de ter origem rural - onde, toda a gente sabe, as gentes vestem-se de chapéu de palha e serapilheira.

"Os operários foram para a Festa do "Avante!", reproduz-se de "um militante".
Se eu fosse militante do BE proporia que o marchante que deu esta resposta ao (à) jornalista fosse excomungado do partido por fazer humor surrealista numa ocasião solene do partido!
Ainda não se percebeu por aí, seus elitistas, que piadas em público só daquelas que a audiência do "Levanta-te e Ri" consiga perceber?

Proporia ainda o prémio "militante do mês" para o tipo da organização da marcha que teve a brilhante ideia de distribuir figurantes ao longo da estrada para se "dizerem" vítimas de despedimentos e saudarem o Louçã!

Para concluir o título do post: ...não haveria licenciaturas em jornalismo.