12.1.11

A despropósito

Quando um caso de assassinato de um ser humano se reduz a considerações sobre a sua sexualidade, ao “querem mandar mais que os outros” ou “querem sujeitar os outros às suas inclinações”, algo de mal se passa. Há todo um clima de intolerância não assumido que emerge e parte o verniz dos “brandos costumes “.

Mas, tal como as fogueiras de antanho, antes da histeria dos basbaques que queimavam os seus medos através do sofrimento alheio, havia quem organizasse o “espectáculo”. O espectáculo, já sabe desde os Césares, é bom remédio para alimentar as almas desanimadas pelo estômago vazio. Em tempos de crise há que distrair a raiva da origem do mal e, como a tolerância com a diferença sempre foi mais fácil de vender que o ódio, a receita nunca falha.

O “esgoto” mediático não correu apenas no anonimato das condutas blogueiras. A forma apriorística de tratar o assunto tem exemplos “respeitáveis”: lembro-me de ter visto ser rebuscado pela RTP um estudo, inédito mas muito limitado, sobre violência entre casais homossexuais. Não ocorreu aos jornalistas outro enfoque de um caso policial que não o da homossexualidade, foi como discorrer sobre “raças” acaso um dos envolvidos fosse preto.

Concluirei referindo-me tão-somente a escolhas de modos de vida: a frase “a minha liberdade acaba onde começa a do outro” é execrável, é o lema da nossa dificuldade em viver com a diferença, pressupõe o encarar das escolhas do próximo como uma manifestação de rivalidade, mesmo que aquelas não afectem as escolhas próprias - lembremos o debate sobre o casamento homossexual… Para muita gente as vidas não são paralelas mas perpendiculares. Podiam guardar para si, mas o que é triste é que nos envenenam a vida com o seu fel.

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