18.12.15

Jornal "Público" prepara-se para reduzir jornalistas?


O "Público" começou com Vicente Jorge Silva, contava com gente como Fernando Dacosta, que o tornou o melhor jornal português, mas perdeu credibilidade quando puseram o propagandista do ultra-liberalismo (para ser piedoso) José Manuel Fernandes como director, uma opção mais ideológica do que jornalística. A tarefa de tentar recuperar a credibilidade mortalmente ferida do jornal, aquela que tem enfrentado a actual directora, Bárbara Reis, não tem sido fácil. Os danos foram demasiados.

Todavia, hoje, e apesar de tudo, ainda será o melhor jornal português, a começar pelo leque mais abrangente de comentadores, passando pela área científica, de crítica de cinema e acabando na abordagem dos assuntos de forma menos "televisiva". A forma de moderação das caixas de comentários pode ser discutível mas evita de alguma forma que se tornem num esgoto como as da maioria dos jornais, este inclusive [1].

Pertencendo a um grupo económico, o jornal está incluído na sua estratégia de "marketing", de prestígio junto de um público específico. Não sendo a "Dica da Semana", nem vivendo de escândalos e do voyerismo, ou de motivações políticas politicamente indisfarçáveis, o "Público" estará sempre dependente dos resultados económicos. Só que, pescada-de-rabo-na boca, estes resultados não se conseguem sem leitores, e para haver leitores tem de haver prestígio e jornalistas dignos desse nome.

Temo que o "Público" com menos jornalistas tenha ainda mais dificuldade de viver como projecto sério de jornalismo.

Chamo "projecto sério de jornalismo" um projecto que não se limite a reproduzir os produtos das centrais noticiosas internacionais - no limite, como nas redacções televisivas, a usar produtos fora de prazo do "youtube" como "fontes".

A cada jornal que morre a Democracia encolhe.

(Há uns que se desaparecessem aconteceria exactamente o contrário, mas eu não me quero alongar...)



[1] Este texto reproduz um comentário à notícia no "Expresso"]

10.10.15

Resposta a uma "Maria", comentadora fascista.

Não "Maria", as eleições foram para eleger deputados, repito: DEPUTADOS (desculpe as maiúsculas, é só porque acho que os seus ouvidos têm paredes). O que quer dizer que o presidente, aquele idiota em quem aposto que terá votado, mercê dos resultados que não deram maioria absoluta a nenhum partido, devia ter convocado todos os partidos. Não o fez por causa do seu cartão de partido (ou será pelo "cartão platina" do BPN?).
O PSD e o PP, lembro-lhe porque me parece "esquecida", têm grupos parlamentares AUTÓNOMOS (lá estou eu outra vez mas pelas mesmas razões), o que quer dizer que, olhando aos números, é legítimo qualquer governo que forme maioria, seja lá ele de que cor for, até um governo PS/CDS calcule...

[Corrijo: não pode, o CDS tem menos deputados que o Bloco de Esquerda ("E esta hein?!")].

Dispenso comentar essa do "cérebro e da carteira" quando fala do PS (com alguma razão, reconheço) mas se "esquece" tragicamente do PSD e do CDS. Queijinho a mais dona "Maria"?
Depois os "canalhas" dos comunistas... cuidado Maria, está-lhe a fugir a língua para o franco... para o "franquismo" diria eu. Tão democrata que ela é!
Sabe, eu até gosto de ouvir críticas certeiras à Esquerda, só assim ela se emenda, mas essa linguagem tem um cheiro a "bolor" da António Maria Cardoso...[a sede de uma instituição "benemérita" do tempo do "botas" (Salazar), a PIDE, que sossegava as "Marias" torturando e matando os seus ódios de estimação].

E no fim, a repugnância pelo "povão". Ui! Que altivez! A "Maria é uma "tia"? Se calhar está morta, que "é o contrário de estar estar viva" e ainda não deu por isso.
Mas falou do "povão"  e isso é comigo (sabe como são as manias dos "canalhas" de Esquerda) por isso vou-lhe responder (peço que tirem as crianças da sala):

Das duas uma: A "Maria" ou é uma jovenzinha imberbe, daquelas que trabalha numa IPSS, uma daquelas "instituições" que faz enriquecer uns à conta da pobreza dos outros, e está preocupada com a ameaça do Estado retomar a sua função social, ou então não passará de uma velha pútrida, uma daquelas que passou na Mocidade portuguesa Feminina ou nas Senhoras da Caridade e ainda não recuperou do trauma do 25 de Abril. Só isso explica o ser ar paternalista em relação ao "povão".
O "povão ", sua cretina, são aqueles que lhe pagam a reforma, que vêm as taxas e os escalões do IRS a roubar-lhes o salário para pagarem os desmandos daqueles a que vem aqui diariamente lamber os "apêndices".

O "povão" tem razão, não liga a "partidarismos", está farto de ser roubado. Quer alternativas e coragem para as impor.
E "pavloviana" é a "Maria", que a cada intervenção que faz aqui é para dar o triste espectáculo de defender os seus donos arreganhando o dente a quem tem o direito de ter opinião adversa.
- "Vá lá, Maria, abana o rabinho para o tio Portas e o tio Passos...Olha lá que bonita a abanar o rabinho!"
- "Ladra lá àqueles que andam a dizer que estão a ser roubados! Malandros dos comunas! Blocos de esterco"!

["Comunas", na linguagem da "Maria" são todos aqueles que não estão com o seu dono].

Outra coisa, esse ódio ao BE já passou a política, parece-me um problema patológico.
Se quer a minha opinião acho que a "Maria" tem "Esterco" aos "Blocos" na cabeça. Só há uma cura: saia, conviva, fale com pessoas, arrisque conhecer pessoas de outras cores e credos, saiba como vivem, o que pensam, o que são, o que fazem, deixe-se de estereótipos, beba um copo, se quiser fume um charro (não é a minha onda mas não a julgaria por isso, evite o "cavalo" mais ao gosto dos seus amigos endinheirados que isso vicia mesmo), faça sexo se lhe apetecer e com quem lhe apetecer (faça-o seguro e não se meta com menores), pinte, cante, leia, vá ao cinema....
Enfim, seja um Ser Humano e não uma múmia do passado fascista a descarregar sobre nós as suas frustrações e medos.

7.10.15

"Já não há Classes Sociais nem Esquerda nem Direita"

O mundo parece mais confuso. O que antes nos pintavam a preto e branco como um confronto entre blocos ideológicos tem agora novos contornos. Mas a velha ordem das classes sociais não se alterou, não me refiro àquela da divisão social baseada no acesso ao consumo (classe alta, classe média, classe média-baixa...) mas a que tem a ver com o papel que cada indivíduo ocupa na produção. Se ainda há os proprietários, os donos dos meios de produção, também há toda uma massa de gente que apenas possui os seus braços e cabeça que põe ao serviço dos primeiros a troco de salário, executam trabalho, são os trabalhadores. Então, se há patrões e trabalhadores, há classes sociais.

Muitos dos sobreviventes da II Guerra Mundial não quiseram voltar às condições que havia antes da guerra, sabiam que tinham sido estas que haviam contribuído para o caldo que levou ao conflito. O Estado Social do após a II Guerra Mundial criou aquilo a que se chama Concertação Social, a concertação de interesses entre o patrão ("empresário", se quiser) que quer tirar o máximo de lucro da sua empresa, pagando o mínimo em salários (lembra-se do que afirmou o homem a quem a PT foi para às mãos, "Não gosto de pagar salários"?) e quem executa o trabalho. Já ninguém queria viver apenas para trabalhar para comer e comer para trabalhar. Morrer sem ajuda médica, ser analfabeto, sem abrigo tornaram-se coisas com que um europeu civilizado não queria conviver.

Mas para manter este limiar de Direitos, "Humanos" chamaram-lhes, havia a necessidade de manter o equilíbrio entre os interesses do Capital e do Trabalho. A divisão política entre a Esquerda e a Direita baseava-se no prato da balança onde se devia meter mais peso, no Social ou no Lucro. A fiscalidade de acordo com os rendimentos era o contrato, o fiel, que mantinha a coisa a funcionar de forma equilibrada.
Esta "harmonia" não se deu sem fortes confrontos sociais, greves e confrontação eleitoral entre os programas políticos dos partidos que tinham mais peso laboral e os outros da velha ordem capitalista. Pelo meio, crises energéticas, desemprego e consequente baixa dos salários dos desempregados. E a necessidade imensa de aplicar o capital em coisas que gerassem lucro.

A sociedade baseada no lucro só funciona fabricando mais mais oportunidades de ganhar dinheiro, não é maldade é a sua natureza. A pequena empresa para sobreviver tem de crescer, competindo com as outras para ser uma grande empresa, o sonho de todas: a exclusividade do mercado, o monopólio, e a redução das "ameaças" ao insignificante. Pelo meio, o capital financeiro, que joga com o destino das empresas e através destas com a vida das pessoas, empresários e trabalhadores.

Esta necessidade de rentabilizar com menos riscos tornou apetitosos "mercados" onde até aí era o Estado que ditava as regras: a energia de que dependemos tornou-se um alvo prioritário, desmantelaram-se as empresas públicas, os transportes, e depois os serviços públicos como a Saúde e a Escola. A divisão entre a Esquerda e a Direita tornou-se a divisão entre aqueles que acham que devem ser os governos eleitos a gerirem os bens essenciais e os outros que acham que devem geridos como os outros produtos de consumo.

No meio de uma das crises cíclicas de sobreprodução do capitalismo, perante um Estado incapaz de tomar rédeas à cada vez maior importância do capital financeiro, o neoliberalismo de Thatcher e de Reagan tornaram-se moda. Privatizar tudo era a solução para "tornar mais barato", as empresas públicas foram desmanteladas e vendidas, os seus trabalhadores tornados precários, a Saúde e a Educação, as Reformas tornaram-se cada vez mais apetecíveis.

Entretanto, a Leste. dá-se o colapso da União Soviética e a substituição dos Estados socialistas burocraticamente degenerados pelo capitalismo mais selvagem e autocrático. O desaparecimento dessa ameaça que tornava o capitalismo mais "ameno" a Ocidente para não gerar simpatias dos trabalhadores com as supostas garantias que teriam a Leste, tornou desnecessário ao capitalismo ocidental a existência do pacto interclassista a que denominavam Estado Social.

Ao desequilíbrio entre as classes no Ocidente juntou-se a falta de rival militar-político à escala internacional. A URSS estoirava numa miríade de nações, que representavam menos rivalidade para um ocidente rendido ao capital financeiro.
A necessidade de matérias-primas mais baratas levou ao confronto militar e à queda dos partidos nacionalistas nos países produtores de petróleo, e a sua substituição por governos frágeis minados por interesses económicos que se servem de bandeiras religiosas. Os bandos terroristas religiosos, como o Estado Islâmico substituem a autoridade dos Estados desmembrados pelas bombas ocidentais (Iraque, Líbia, Síria?...)

O triunfo do capitalismo financeiro sobre o "controlo" dos Estados não acontece por acaso. "Off-shores", viagem do dinheiro de país para país sem pagar impostos não acontece por acaso, mas por uma necessidade imensa de acumulação.
É aqui que a incompetência dos políticos entra em jogo, dirão uns. Não, é aqui que a sociedade imaginada pela Direita que recusa qualquer tipo de controlo dos capitais funciona no seu esplendor. O dinheiro não pode ter rédeas, as pessoas só contam na medida em que podem reproduzir dinheiro. Não contam para nada, como as miúdas de doze anos que morriam agarradas às máquinas de tecelagem no início da Revolução Industrial. Aqueles que procuram que os Estados, em nome dos povos, passem a controlar os capitais chamam-se de Esquerda na Europa ou Liberais nos EUA.

Não nos deixemos iludir. O capitalismo já não se faz representar pela figura do gordo da cartola. O gordo, hoje, é o miúdo do bairro social que só se alimenta de comidas baratas e manhosas que lhe enchem o sangue de gordura. A velha burguesia cheia de manias de outrora, alvo de chacota, são os jovens e desportivos meninos e meninas que trabalham o corpo de tarde depois de nessa manhã terem, na bolsa, atirado mais uns milhares para o desemprego.

Aquela miúda de 12 anos do Século XIX vive hoje nas fábricas da Ásia que fabrica as roupas de marca, ou será mais velha, na Europa, onde já não morre agarrada à máquina mas tem uma vida que é curta para além da máquina e do salário que lhe pagam. São os proletários modernos, os tais que dizem que não existem.
Já vai sendo tempo de pormos uma coleira no capitalismo antes que na sua voragem desenfreada nos devore a todos. Europeus, portugueses, alemães, gregos... digo eu, que sou da Classe Trabalhadora e um gajo de Esquerda.
Respeito!

Nas pulgas, a surdez é inversamente proporcional ao número de patas


 A Comissão Europeia dá os parabéns a Passos e reafirma que a austeridade dá resultado.

O cientista arrancou uma pata à pulga e gritou, "salta!", e a pulga saltou.
Arrancou-lhe outra pata e fez o mesmo, e a pulga saltou.
E lá continuou o cientista a sua experiência, tantas vezes quantas as patas que sobravam à pulga.
Até que a pulga deixou de reagir aos "estímulos sonoros".
Para validar a experiência, o cientista puxou de outra pulga e repetiu a experiência.
E outra pulga, e mais uma vez...
Finalmente satisfeito, o cientista puxou do seu caderno e anotou:
"Nas pulgas, a surdez é inversamente proporcional ao número de patas".
A sua conclusão foi uma autêntica pedrada no charco da ciência europeia, com aplicações directas noutros ramos como o da pecuária, onde foi comprovado que os PIGS sem patas também não saltam.

[PIGS: iniciais em inglês para Portugal, Itália, Grécia e Espanha ("Spain"). A tradução literal de "Pigs" para português é "Porcos"].

10.9.15

O choque de Titanics ou as eleições segundo as televisões

Num contexto em que os patrões da Comunicação Social conseguiram divorciar as TV do debate democrático, alterando as regras do acompanhamento do debate eleitoral a e reduzindo o "serviço público" ao que pode potenciar espectáculo, tudo para não prejudicar a emissão dos produtos televisivos que preferem servir em horário nobre, lá tivemos o debate entre os "candidatos a primeiro-ministro".
"Candidatos a primeiro ministro"? Eu seria capaz de jurar que vamos ter eleições para a Assembleia da República, isto é, que se vai eleger deputados para a AR, e que nessa AR estarão lá outros partidos que, somados, podem condicionar o que lá se decide. Mas que interessa este pormenor, é melhor transformar a coisa num concurso de popularidade entre o mandante da situação e o "líder da oposição".
Para as TV tudo seria mais fácil se houvesse apenas dois partidos. Pois é, a Democracia é muito bonita mas é aborrecida, porque há que escolher, há que pensar, e fazer pensar é algo que contraria a lógica das televisões que olham para os seus espectadores como bestas consumistas.
As regras foram alteradas em nome do "critério jornalístico", leia-se publicitário. Assim, este "debate", feito à medida das três televisões, foi o único que teve canal aberto em horário nobre. Aos outros partidos não será permitido interromper a telenovela. Dentro desta perspectiva, foi publicitado até à náusea como se fosse o "encontro ao entardecer" que iria decidir tudo. Mas afinal, a montanha pariu um rato, não se ouviu nada que já não se tivesse ouvido.
A única novidade foi o modelo de gestão do "debate", mais cronológico que jornalístico. Como podia ser jornalístico com um triunvirato representativo das redacções dos telejornais fazendo perguntas pré-acordadas entre eles, como se um debate não tenha dinâmicas que podem e devem ser exploradas. Não tivemos jornalismo, antes três "robots" que, ao que leio agora, conseguiram até acabar uma pergunta cretina se alguém iria visitar alguém. É o "jornalismo" que temos.
Escrevi "ao que leio agora" porque não consegui aturar o modelo por muito tempo. O formato escolhido decepcionou quem tem idade para se lembrar de debates "a doer" na televisão conduzidos por jornalistas e não por cronometristas.
A possibilidade de mudar de canal e contribuir para diminuir o "share" de três TV ao mesmo tempo foi mesmo a única vantagem daquilo que passou ontem à noite.
Foi dos dias em que dei por bem empregue o dinheiro que dou pela TV por cabo, e lamentei mais uma vez o dinheiro que me é extorquido para pagar um "serviço público" que não existe.
[Este texto foi editado desde a sua "postagem": foi alterado o título]

9.9.15

O debate Catarina Martins/Paulo Portas na imprensa engajada

Caros comentadores, agora comento eu.
Dizer-se que se está com a posição de renegociação da dívida (coisa que hoje já nem é exclusivo do BE mas até de outras figuras da Direita) é esquivar-se, e afirmar que não se concorda com o memorando aceite por Tsipras e pela maioria do seu partido é fugir?
Fui só eu que vi que Paulo Portas pretendeu desde o início utilizar o papão da Grécia esmagada pela UE para fugir das questões que lhe foram feitas sobre a realidade portuguesa, concretamente sobre os "contratos de trabalho" inexistentes dos jovens e do corte já acordado com a UE nas pensões? Foi ilusão minha que o "papa debates" foi encurralado, apesar do ar e da linguagem de "estadista"? Logo o Paulo Portas, o tal do "Independente"!
Os senhores comentadores políticos fazem-me lembrar aqueles vossos "colegas", os desportivos, que analisam os jogos de futebol com preconceito clubístico. Umas vezes "o futebol é um jogo de contacto", noutras, quando convém, "houve um ligeiro toque", é grande penalidade. Cá em casa chamamos a isso comentar com a bandeirinha metida no... É isso que vi aqui e no "Sol", a bandeirinha do "PàF" metida no... comentário.
Esqueceu-se imperdoavelmente, as televisões insistem muito nisso, não vá a gente perder-se: "o BE passou de 16 para 8 deputados". Que admiração, quando as eleições foram feitas num contexto de chantagem emocional e quase toda a gente (ainda) acreditava que a crise era obra de "vivermos acima das nossas possibilidades". Somos todos banqueiros e jogadores da bolsa, né?
E também faltou o não desprezável "e não foi à Troika negociar". Como se não se soubesse, hoje, que não se negociou nada. Nem Paulo Portas ousou ir por aí, ele lá sabe por quê. Se quer saber, eu acho que o BE devia ter ido lá, sim senhor, mas para dizer aos "troikanos" que "o dinheiro que falta está todo nas contas dos que o roubaram e nos "offshores" que permitis". "Capice"?
Aproveitando o balanço, considero que aquele resultado de 16 deputados não coincidiu com a real influência politica desse partido, foi um voto de protesto conjuntural, um balão que rebentaria porque o passo seguinte seria participar no governo, mas isso só aconteceria com o PS, e para isso seria necessário "vender a alma ao diabo". Como entender que um discurso que fala do emprego com direitos se casasse com o programa de um partido que precarizou várias gerações de portugueses? (Ah pois, não foi só o PSD e o CDS). Mas não deixa de ser curioso como os comentadores que atacam a Esquerda por não se aproximar do PS nunca se lembram de acusar a falta de aproximação do PS à Esquerda. É "irresponsabilidade" o BE não abdicar dos seus princípios de Esquerda, que eu coloco entre o social-liberalismo do PS e os resquícios de Estalinismo do PCP, mas não é burrice teimar sempre na receita de ser a outra face da corrupção que nos governa como tem feito o PS?
Ao contrário do que os comentadores afirmam, as crises não são amigas da contestação de teor socialista e "radical" (ui!) mas do medo e da fuga para a intolerância, e até de soluções fascizantes. É preciso lembrar que Hitler subiu ao poder através eleições no meio de uma crise terrível? Em que sítio fizeram as vossas cadeiras de História Contemporânea, caros comentadores, na privada? A vitória do Syriza na Grécia foi uma excepção, já não havia mesmo nada onde votar, e o Syriza tinha a ilusão (que lhe foi fatal) de que chegaria à Europa e renegociaria a dívida. Tsipras estava longe de pensar que as Direitas europeias preferem governos fascistas, como o da Hungria, a um que tenha como referencial político os de baixo. A dívida e os interesses financeiros valem mais que a vida dos milhões de deserdados desta Europa.
E ainda o funeral. Esqueceu-se de fazer o funeral ao BE! Tantos funerais na comunicação social, Só que, qual Fénix que renasce das cinzas, reaparece outra vez, o chato. Às vezes a magana da realidade não coincide com os desejos dos comentadores arregimentados.
Concorde-se ou não com o BE, comentadores que não conseguem perceber por que há gente que não tem medo de ficar em minoria quando o resto canta em coro que "o Rei vai muito bem vestido", que nem sequer imaginam o que motiva pessoas a defenderem ideias antipáticas aos médias, aos megafones dos donos disto, deviam dedicar-se a comentar touradas. Quem gosta delas nunca vos criticará por estarem sempre do lado dos toureiros.
"O que faz falta", como diria o poeta, é comentadores que vivam um pouco da vida dos que sofrem as consequências das políticas que nojenta e parcialmente defendem nos jornais. Percebe-se, antigamente os jornalistas eram "marginais", viviam em bairros populares, conviviam de perto e conheciam o que a miséria faz. Hoje são muito classe-média alta, vedetas, ou candidatos a tal. Saltam dos Jornais para a Publicidade sem que o Código Deontológico lhes salte da carteira.
É isso que justifica o seu ódio social a cada luta laboral. "Peças" de entrevistas a perguntar a utentes do Metro o que acham da greve, utentes que nem sabiam que havia greve quanto mais por que era!, sem explicar o que levou os trabalhadores dessa empresa a perderem tanto salário é o quê? Jornalismo ou manipulação? E agora tão caladinhos que eles andam quando vendem o que é nosso por "tuta e meia"... E aquele olhar os pobres pela lente das senhoras da caridade: não como pessoas mas como uma oportunidade de darem nas vistas na "socialite", na melhor das hipóteses de fazerem as pazes com o Deus que adoram ao Domingo e negam o resto dos dias nas empresas que dirigem.
Não, caros comentadores, isto não é sobre o BE, podeis babar-vos sobre o seu cadáver adiado, ou consolidado tal o vedes nos vosso sonho húmido de cães de trela. O BE até pode ficar a zeros. Mas não duvideis, virá sempre outro "BE", outro espectro que vos tirará o sono a cada 0,1 por cento de sucesso eleitoral. Vós eu e sabemos não é do "BE" que tendes medo, é do que vai na cabeça daqueles que lá põem a cruz fora do lugar. É a avaliação do vosso trabalho que está em causa.

28.7.15

Os media e a promessa da devolução da sobretaxa do IRS em 2016



Faz lembrar aquela daquele que comprou uma "cautela" e antes mesmo de "girar a roda" anunciou que já tinha destinado parte do dinheiro para comprar um carro de uma marca de prestígio, o que gerou uma discussão tremenda à volta da mesa pouco farta da família sobre quem teria o privilégio de ir sentado no banco do pendura, "Ou calam-se ou ponho toda a gente fora do carro!".




Andamos há mais de uma semana a ver as televisões darem uma notícia sobre algo que não ocorreu e a ouvir comentários ("especializados", claro está) sobre uma matéria cuja probabilidade de se tornar realidade é mais sondável numa bola de cristal de uma barraca de feira do que na mente dos economistas engajados dos canais televisivos.



Perder a casa e a família porque se perdeu o salário não é notícia, mas passa-se diariamente. Como antes de Abril de 1974, não há suicídios a não ser que tragam pormenores picantes. Não é inocente, em Espanha elegeram-se candidatos que cresceram na luta contra esta realidade. É preciso explicar? Mais vale passarem aquela do "desempregado que se tornou empreendedor", não interessa se o negócio seja transformar em quadrado as cabeças redondas dos alfinetes. Optimismo, precisa-se. Eles nunca aparecerão para saber como está o negócio, nunca se saberá que o "empreendedor" ficou sem casa porque não conseguiu pagar a mensalidade das máquinas ao banco e que o seu empreendimento acabou numa rua da Suíça.



Os jornalistas (para não ser "generalista", os média) aprestam-se a serem megafones dos "spin doctors" do governo, isso tira-lhes a credibilidade. Nas televisões, nada de novo, já é tradição como aquele anúncio incontornável do "Cálcio...". O drama é que já nem a Imprensa nos "faz pensar" e nos livra do "tsunami" pré-eleitoral do governo.



Francamente, há mais notícias na Internet. Há é que ter o trabalho de "seleccionar" e de "indagar fontes". À laia de sermos nós a mudar o óleo ao carro porque o mecânico é aldrabão.

9.7.15

A frente mediática

O Jornal "I" coloca um título preocupado "Syriza investiga jornalistas de meios privados gregos".

A notícia fala da forma como foi feita a cobertura do referendo pelos media privados gregos e da investigação que os sindicato dos jornalistas locais está disposto o fazer. Já se fala de tentativa de limitar a  "liberdade de expressão"...

Eis algo que já não vai preocupar por cá os propagandistas da maioria na AR disfarçados de jornalistas. Os patrões da comunicação social até conseguiram que se fizesse uma lei que atirou para as urtigas o tratamento equitativo das forças políticas concorrentes ao próximo acto eleitoral. Para os que agitam fantasmas sobre a Grécia, lembro que a maioria dos órgãos de comunicação desse país pertencem aos armadores a quem o Syriza quer fazer pagar impostos (a UE prefere que sejam os reformados a pagar por eles). Por isso, não espanta que os jornais dos barões e balsemões locais odeiem o governo grego. As primeiras imagens de pessoas à frente de multibancos que passaram nas TV datavam de 2012 (!), e foram passadas repetidamente até que as pessoas, preocupadas, foram para a frente dos multibancos... Outra que foi denunciada (na net, os "jornalistas" não se corrigem) foi a de um velho com um pão, "um reformado grego que não conseguia levantar a sua miserável pensão" (afinal há "pensões miseráveis" na Grécia, e eu a pensar que só queriam praia), esta imagem era mais antiga ainda, era de um velho turco após o terramoto de há anos. Vale tudo para ganhar e manter o domínio. Se o sindicato de lá se preocupa com a Código Deontológico, óptimo. Gostaria que isso acontecesse aqui. Talvez as pessoas se apercebessem que muitos jornalistas não passam de propagandistas engajados, que emitem opinião por notícia. Pelos vistos, ainda, e como no Portugal semi-analfabeto de antes do 25 de Abril, o que passa no telejornal é que é verdade. A propósito, senhores "jornalistas" e crentes no "Pai Natal": Já encontrastes as "armas de destruição maciça" do Iraque?


8.7.15

Slavoj Žižek sobre a Grécia: "É uma chance para a Europa acordar"

"[...]
Um jovem grego visita o consulado da Austrália em Atenas e pede um visto de trabalho. 'Por que você quer deixar a Grécia?' - pergunta o funcionário.

'Por duas razões', responde o grego. 'Primeira, que tenho medo de que a Grécia separe-se da UE, o que levará a mais miséria e caos no país'.

'Mas' - o funcionário o interrompe -,' tudo isso é perfeito nonsense! A Grécia continuará na UE e se submeterá a disciplina financeira!'

'É' - responde o grego. - 'Essa é minha segunda razão'.

[...]"




Retirado de um texto do filósofo esloveno sobre a Grécia, publicado na edição em português do jornal digital russo "Pravda". Pode ler o artigo completo aqui.

3.7.15

Comprometendo o Jornalismo, outra vez

A campanha do referendo na Grécia ganha contornos interessantes nas TV portuguesas com as estações que se têm limitado a retransmitir "ipsis-verbis", acriticamente, o que sai das grandes antenas internacionais (e do YouTube...), e que já quase não têm correspondentes no estrangeiro, a mandarem jornalistas (quantos falarão grego?) filmar bichas ["filas"? eu sou português não sou brasileiro] à frente dos multibancos.
Sobre o trabalho dos "jornalistas", desculpem mas depois das "armas destruição maciça no Iraque" e da vergonha que foi deixarem-se manipular pela NATO na cobertura da Guerra na Jugoslávia, é de desconfiar. Sabíeis que havia um portal de informação sobre a Grécia em Portugal? Eu também não.
Esta vem denunciada no "Infogrécia". Abro aspas:
Uma vítima do terramoto da Turquia "transformado” em pensionista grego em lágrimas na capa de um diário é o último exemplo de manipulação da imprensa a fazer furor nas redes sociais.
A esmagadora maioria dos jornais e tv’s privadas da Grécia, detidos por grupos ligados à oligarquia que tem dominado a finança do país, faz abertamente campanha pelo ‘Sim’.
O diário Star publicou esta semana na capa a foto de um pensionista grego em lágrimas por causa do controlo de capitais. Na realidade, este “pensionista” é uma vítima do terramoto na Turquia em 1999, agora recuperado para ilustrar ao povo grego o suposto desespero da terceira idade à porta dos bancos.
Se durante o fim de semana, as televisões criaram o clima da “corrida aos bancos”, com diretos intermináveis junto às caixas multibancos até que de facto as filas se começassem a formar por gente preocupada com o que via na tv, isso não bastou para alguns canais.
Uma das imagens mais impressionantes foi a desta idosa a proteger a amiga de olhares curiosos sobre o pin de multibanco por parte da suposta multidão na fila para levantar dinheiro. Mas na verdade, a foto era de 2012 e mostrava que não havia mais ninguém próximo da caixa.
Fecho aspas.
Claro que votaria "OXI" na Grécia.
Por cá, por alguma razão até o "Dia da Restauração da Independência" deixou de ser feriado.
Os betinhos que nos governam devem ter pensado que era o dia dos restaurantes...

26.6.15

E agora, "não há nada mais importante"?

Reproduz-se abaixo um comentário a esta notícia do "i":
http://www.ionline.pt/artigo/399184/uma-mulher-deve-pagar-para-fazer-um-aborto-maioria-vai-mudar-a-lei?seccao=Portugal_i


Ainda hoje veio a lume que o número de abortos desceu em Portugal, o que contraria a ideia de que, aprovada a lei, seria "um fartar vilanagem" porque as malandras das mulheres (já agora os homens, não?) nem se preocupariam com a contracepção. Está demonstrado: a Lei da IVG reduziu o número de mulheres mortas por aborto, reduziu o aborto clandestino e reduziu o aborto em Portugal. Se não há mais crianças, seus cretinos do governo e respectivos tapetes, é porque ganhar 400 euros por mês não dá para dar de comer a ninguém, entendido? Com isto não se preocupa essa gente tão "piedosa"! Mas esta iniciativa dos partidos da Direita procura algo mais e não tem nada a ver com a "justiça" de pagar taxa moderadora (lê-se logo os idiotas úteis, "Ámen!", que não se lembram que foi em nome de algo deste género que introduziram e aumentaram as taxas até haver muita gente que não vai ao médico porque não tem com que as pagar), justiça é coisa que não assiste a este governo que corta o RSI a mães solteiras desempregadas aconselhando-as a irem ter com a senhoras da caridade. Com tanto problema no país, por quê lembrarem-se do valor ridículo das taxas moderadoras? Junte-se-lhe a ideia das assinaturas nas ecografias, e a perseguição moralista de quem toma uma decisão dolorosa, e temos o quadro: pretender reverter na secretaria o que foi decidido pelo voto popular.
Esta canalha que só ainda governa porque aquela coisa inqualificável que ocupa Belém a tem (as)segurado, não está apenas interessada em vender tudo o que é nosso aos amigos e aos que lhe financiam os partidos ou lhes garantirão emprego se o "pote" se for, quer deixar ferido de morte tudo o que lhes lembra que este povo teve um momento na História em que não foi a mole narcotizada pelo consumismo e pela televisões reles que é hoje. Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública, a assistência pelo Estado aos mais pobres... não há muitos países que se possam gabar de ter diminuído a mortalidade infantil e o analfabetismo no tempo que nós fizemos. Não é o valor desprezável da taxa que lhes importa. Como fundamentalistas de Direita que são não podem admitir que uma mulher possa escolher, esse é o seu problema. Essa estória da "vida" é para acalmar os ratos de sacristia que não sabem ou já não podem ter filhos e querem mandar no útero das outras!