21.1.11

Decidi-me, vou votar Alegre.

Mais uma entrada que reproduz uma resposta ao debate sobre as presidenciais no blogue "5 Dias", o blogue que mais ataca a disponibilidade do Bloco de Esquerda em apoiar Manuel Alegre, mais vezes que se vai ao Cavaco, digo eu.


Por falar em lembranças.
Ano de 2006, cenário: Eleições Presidenciais

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“Sem surpresas, o candidato a Presidente da República do PCP [Jerónimo de Sousa] culpou o PS por Cavaco Silva ter tido mais de 50 por cento dos votos, afirmando que a segunda volta “estava perfeitamente ao alcance” da esquerda e que “há responsabilidades particulares” do PS no resultado. “O problema não foi a existência de várias candidaturas de esquerda. Foi a desmobilização e a rendição antecipada do PS”, insistiu.

O candidato do PCP bem que tinha avisado, durante a campanha eleitoral, que faltava “um bocadinho” para levar Cavaco a uma segunda volta. Recuperando os alertas que ao longo das últimas semanas foi deixando, o discurso de ontem à noite já era previsível. Jerónimo tinha apelado diversas vezes ao PS para que mostrasse mais empenhamento nesta campanha.

“As hesitações e posicionamentos do PS e do seu Governo desde a primeira hora contribuíram para ampliar as possibilidades eleitorais de Cavaco. As ambiguidades que desde sempre marcaram a posição do PS, a notória falta de empenhamento posta na campanha eleitoral associada ao baixar de braços e à resignação patenteada pela direcção do PS jogaram a favor do desfecho final”, afirmou.
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(In http://dossiers.publico.clix.pt/noticia.aspx?idCanal=1463&id=1245603


Jerónimo de Sousa, no mesmo contexto, em entrevista ao "Público"

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Quando disse na RTP que o PCP tinha ponderado apoiar uma candidatura única de esquerda, estava a pensar em que tipo de figura? Nalgum nome em concreto?

As eleições de Fevereiro deram uma derrota clara da direita. Havia a grande questão das eleições presidenciais e o comité central do PCP, na análise que fez aos resultados, chamou a atenção para a necessidade de dar resposta a um processo que estava em curso. Estava a construir-se de uma forma hábil uma candidatura de direita. Por parte das forças à esquerda, havia uma espécie de resignação, indiferença, fundamentalmente por parte do PS. Cito de memória a declaração de José Sócrates a dizer que mais lá para a frente, para Setembro, pensaria nisso. A este apelo [do PCP], que era uma disponibilidade, verificou-se pouca vontade por parte do PS. Quisemos publicamente fazer esse alerta, chamada de atenção, mas foi pouco animadora a resposta.

Mas tentaram algum contacto com o PS?

Não. Houve uma posição pública que nunca chegou a ser formalizada. Em relação à figura, obviamente nunca seria o PCP a tomar a iniciativa, dizendo beltrano ou sicrano. Seria uma figura que pudesse, com base nessa vontade de mudança e de um amplo espaço à esquerda da candidatura de Cavaco Silva, ser encontrada, ou um independente ou alguém da área de algum dos partidos.

Poderia ter sido Mário Soares?

Sinceramente, não pensámos na figura de Mário Soares, mas obviamente não íamos com uma disposição de dialogar, arrumando nomes. Antes pelo contrário, íamos com uma grande disponibilidade para um processo de convergência. Sem nomes, sem programa, mas procurando que isso fosse concretizável, tendo em conta o processo que se estava a desenrolar à direita.
[...]


(In http://dossiers.publico.pt/noticia.aspx?idCanal=1463&id=1241347


Algumas considerações:

Em 2006 o PS estaria mais à Esquerda? Não, pois não?
Ao apoiar desde a primeira hora Manuel Alegre, será que o Bloco de Esquerda não interferiu directamente na decisão da direcção do PS? Não criou condições para que as suas propostas em diversas matérias tenham mais eco junto dos trabalhadores socialistas?
Que leitura fazem do trabalho de Mário Soares “y sus muchachos”, do divórcio evidente da campanha eleitoral por parte da ala mais direitista do PS? Contradições, não há? É tudo o mesmo? Em Setúbal, por exemplo, nenhum dirigente importante do PS na cidade se fez representar quando Alegre se inaugurou a sua sede de campanha… estavam bloquistas e muita gente da base do PS que comentava o abandono dos seus dirigentes locais. Isto significa o quê, quando a campanha de Alegre propõe tão só a defesa do Serviço Nacional de Saúde e do Sistema da Ensino Público? Leiam!

Pelo aqui li, é curioso como uma corrente política que há anos, enquanto partido autónomo, criticava o esquerdismo que isolava a vanguarda operária do estado de consciência das “bases socialistas, “imprescindíveis para a revolução”, se coloque à margem da possibilidade histórica de aproximação às tais bases decisivas para a luta pelas reivindicações populares, apelando ao “patriótico” candidato do PCP , ou ao voto em branco (quanta confusão meus deus!) e alinhando na linguagem mais sectária e abjecta dos burocratas Estalinistas sobre companheiros com quem travaram lutas para terem direito a falar em plenários.
É interessante verificar em como estes “principistas” abandonam a dialéctica e se esquecem que o contrário da eleição de um social-democrata assumido é o reforço das condições de poder uníssono da direita no ataque ao que sobra do Estado Social. É isso que está em causa, não “o caçador de perdizes”, “o poeta”, o “social-democrata inconsequente”, não um campeonato de verborreia revolucionária com uns funcionários do PCP!

Numa situação perfeitamente defensiva, como é aquela que atravessamos, escolher a situação que dê mais folga à Classe Trabalhadora, colocando uma contradição na presidência da república não é a atitude certa por parte daqueles que estão na luta pelos trabalhadores e não um aumento percentual no “score” do partido?

Perceber isso é a diferença entre quem está no combate sabendo que ele é prolongado e com passos à frente e atrás, com desilusões e desfuncionamentos, funcionalismos e vícios de vida interna (que também infectam o campo de quem quer mudar – irritante, não é?), de quem quer arriscar com quem muitas vezes não pensa como nós, que não partilha da nossa pureza revolucionária, mas a quem lhe reconhecemos (no mínimo, já agora) o mesmo objectivo estratégico… e os que gostam de olhar eternamente para o seu umbigo “principista” e se sentem melhor fazendo unidade consigo próprios no conforto da seita.

Ontem aceitei uma boleia de um grupo que foi ao comício de Alegre, fiquei surpreendido com a presença de alguém que conheci a militar e há muitos anos a votar no PCP. Quando o Louçã falou, conseguindo dos momentos mais “quentes” mas cheios de conteúdo do comício, esse companheiro voltou-se para mim e disse: “só por isto valeu a pena, pôr muita desta gente a ouvir as coisas explicadas de outra maneira”. Depois vi o sorriso amarelo de alguns dirigentes do PS na televisão.
Ontem decidi-me, vou votar Alegre.
Pela vossa ajuda à minha reflexão, o meu obrigado.
E não, não estou filiado no Bloco de Esquerda. Pelo que leio aqui, ainda posso ser salvo.

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