26.8.12

Caixas de comentários dos jornais: esgotos ou espaços de liberdade?

O aparecimento das edições digitais dos jornais tem permitido a interactividade dos leitores com as notícias, isto é, quem lê as notícias pode contestá-las, corrigi-las até, ortográfica ou cientificamente - já não é o primeiro caso em que notícias são alteradas mercê de chamadas de atenção de quem as lê, o "Público" é exemplo disso, especialmente na área científica, com notas do redactor a confirmar e a agradecer a intervenção dos leitores.

Modernamente a "Galáxia Digital" já permite que blogues e outros programas "linkem" (façam ligação) para as moradas electrónicas das notícias, amplificando desta forma a audiência de quem as escreve. Tal coloca desafios no que toca à forma como se gere o espaço de participação do público.

Há jornais onde os comentários então reservados a leitores devidamente pré-registados, como o "Expresso". A edição digital deste semanário permite que um leitor registado possa ter um pseudónimo à sua escolha. Outros preferem que o comentário se faça livremente sem registo, mas todos gravando os IP (moradas digitais) de quem utiliza as caixas de comentários. Qualquer origem de um comentário pode ser técnica e automaticamente identificada e bloqueada, o anonimato, esse, só funciona para quem lê.

Um parêntesis. O anonimato e a utilização de outros nomes ("nickname") é uma questão que levanta discussão. Mas se pensarmos que na Internet uma assinatura de um comentário com o nome de "Pascoal Silva" tem tanto valor como "Gambozino" (quem nos diz que "Pascoal Silva" é um nome verdadeiro?), estamos perante um mundo em que a credibilidade da mensagem tem a ver com a forma como é apresentada e a quantidade de vezes que é aceite e repetida, mais do que com a sua origem. Isto é, se uma notícia falsa for difundida em muitos locais será mais verdadeira do que aquela, em sentido contrário mas verdadeira, que foi reproduzida por poucos media. Sendo que em matéria de notícias e opinião uma das componentes tradicionais e decisiva para a sua credibilidade era a sua origem, ou fonte, isto significa que algo mudou na forma como consumimos informação. O leitor tem de estar cada vez mais atento e informado (mais culto?) para gerir a quantidade de informação que lhe chega. Pescada de rabo na boca: voltamos ao início do parágrafo e apercebemo-nos que em matéria noticiosa tudo é cada vez mais relativo. Como se não bastasse, os media acentuam cada vez mais a tendência de nos darem somente as notícias que "nós queremos" ver, porque ao lado de uma boa notícia, "má" ou "boa", há sempre um anúncio publicitário.

Os jornais e tevês "responsáveis" assinam e difundem cada vez mais notícias que não são produzidas por eles mas por uma ou duas centrais de informação mundiais, sendo que na maioria das vezes aceitam tudo como está, nem questionam a veracidade do que reproduzem tal como o "totó" que reencaminha mensagens de e-mail sem indagar da sua veracidade. Lembremo-nos da Guerra do Iraque e da mentira montada pelos serviços secretos americano e britânico que os media de todo o mundo "mamaram" candidamente como bebés. E, sim, também esteve em causa que a maioria dos media partilhou da mesma agenda (olhe-se o caso anedótico de Manuel Fernandes, director do "Público"), mas isso é outra conversa. A conversa era sobre caixas de comentários do jornais e a ela regressarei.

Depois do "Diário de Notícias" ter deixado as caixas de comentários terem-se transformado em  autênticos esgotos onde imperavam comentários racistas, xenófobos e homofóbicos, mas onde, curiosamente, havia um filtro automático que não deixava passar palavras como "nazi" e "fascista", e depois desta situação reles e pouco abonatória desse centenário jornal ter sido alvo de uma recomendação da ERC (a que, entretanto, a Direcção Editorial decidiu não dar provimento, manifestando-se contra a "censura prévia" e passando os comentários dos leitores a serem geridos pelos próprios leitores, "cada comentário que receba 10 denúncias de leitores diferentes (este número poderá vir a ser ajustado em função do que a experiência vier a ditar) será automaticamente apagado"), reparei que no "Público" também houve alterações, com os comentários a serem validados não automaticamente mas por alguém que não sei se é jornalista, estagiário, ou o que o valha. A primeira consequência, e mais contestada pelos leitores, é a de que os comentários demoram mais a aparecer, um preço "barato" para uma Liberdade direi eu. Mas uma liberdade que tenho reparado muito... selectiva.
Desde há algum tempo que leio que no "Público" é mais fácil publicar comentários racistas, caluniosos e de ódio do que a sua contestação. Que se faça o exercício de ler o tipo de linguagem permitida nos comentários às notícias referentes a Francisco Louçã e a Jerónimo de Sousa, por exemplo, e compare-se com a lisura existente nas caixas de notícias sobre o governo e políticos de Direita. A malta de Esquerda é mais educada e é isso que a selecção demonstra, ou...
Leia-se o que aqui se escreve depois da notícia (link para o "Público") e perceba-se porque o comentário (que nos foi enviado e se reproduz) na imagem abaixo nunca foi publicado.






23.8.12

Tirou-me as palavras da boca

Ontem, numa manifestação à frente da embaixada britânica em Lisboa:

"Em relação ao Reino Unido, é muito triste que tenham dado protecção a um assassino de massas como Pinochet, cuja extradição foi pedida para Espanha pelo juiz Baltazar Garzon na altura, recusaram-se a extraditá-lo e agora querem por força extraditar Assange para a Suécia, de onde se sabe que será extraditado para os EUA". (link para o "Expresso")

A dualidade de critério dos britânicos, porque deixaram um ditador sanguinário e corrupto dar à sola do seu país (Pinochet) e agora estão tão irredutíveis, traz à memória a célebre frase de um secretário de Estado norte-americano, Cordell Hull, quando o confrontaram com o apoio a outro ditador sanguinário, Trujillo da República Dominicana:"Ele pode ser um filho da puta, mas é nosso filho da puta".

20.8.12

Morrer para tentar "participar"


A somali Samis Yusuf Omar,
de Pequim à morte numa balsa

A atleta africana tentava chegar à Itália para treinar e participar em Londres 2012

A somali Samia Yusuf Omar comoveu o mundo com a sua corrida nos 200 metros nos Jogos Olímpicos de Pequim, onde chegou em último lugar demonstrando o verdadeiro espírito olímpico. Mas não conseguiu repetir a sua participação em Londres, pois morreu na tentativa de chegar de barco à costa italiana.
A triste história de Samia ocupa hoje as primeiras páginas dos meios de comunicação italianos que, citando as declarações de alguns dos seus compatriotas somalis, asseguram que a atleta embarcou na Líbia para a Itália buscando uma nova vida, mas morreu na travessia.
O corredor de meio-fundo Abdi Bile somali, medalha de ouro nos 1500 metros no Campeonato Mundial em Roma, em 1987, foi encarregado de contar à imprensa durante uma reunião do Comité Olímpico Nacional da Somália o que aconteceu a essa menina de 17 anos que comoveu as bancadas do estádio olímpico de Pequim que aplaudiram a sua chegada solitária com 10 segundos de atraso em relação às outras atletas.
"Foi uma bela experiência, carreguei a bandeira do meu país, desfilei com milhares de atletas do mundo", disse Samia ao chegar a Mogadíscio depois da sua experiência olímpica. 


Samia Yusuf continuou a treinar apesar de todas as suas dificuldades 

Pesem todas as dificuldades do estádio Olímpico em ruínas da capital da Somália, por ele teria continuado a treinar-se duramente para voltar a participar nos Jogos Olímpicos.
O treinador de Sami, Mustafa Abdelaziz, confirmou ao Corriere della Sera [jornal italiano] que a atleta embarcou este Verão numa balsa para tentar chegar a Itália e continuar a sua carreira devido à falta de fundos no seu país. A sua mãe, explicou Abdelaziz, vendeu inclusive um pequeno pedaço de terra para financiar a sua viagem para que ela pudesse realizar o seu sonho e ter uma vida longe das guerras e da insegurança.
"Os sobreviventes dessa viagem comunicaram a lista de pessoas que morreram durante a travessia e ali estava o nome dela (...). Ficámos paralisados. Sabíamos que a viagem para o Ocidente é perigosa, mas não podíamos imaginar que ela seria uma das suas vítimas ", disse Abdelaziz


Só com 17 anos participou nas Olimpíadas de Pequim

Samia nasceu em 1991. Era a mais velha de seis irmãos, filha de uma vendedora de fruta, o seu pai morreu num dos muitos conflitos que assolam o país. A sua paixão pelo desporto levou-a ao atletismo, mas também à natação e ao basquetebol.
Em Maio de 2008, Samia foi campeã africana dos 100 metros e com apenas 17 anos desembarcou em Pequim para fazer jus ao lema do barão Pierre de Coubertin: o importante não é ganhar mas participar. O Mar Mediterrâneo acabou com todos os seus sonhos. 

 
Traduzido e adaptado por  
CausasPerdidas
(O Sono do Monstro)

18.8.12

África do Sul: Agora o confronto de Classes faz-se sem a "distracção" da cor da pele (II)

"[...]
A versão de alguns trabalhadores – que acusam os líderes sindicais de terem abandonado as suas origens a troco de poder – é de que os protestos começaram na semana passada, quando exigiram um aumento salarial. A situação complicou-se pouco tempo depois, porque a AMSC entrou em desacordo com o Sindicato Nacional de Mineiros (SNM) – o mais influente do país e aliado-chave do partido Zuma, o Congresso Nacional Africano (ANC), no poder.
 [...]
Os mineiros que, segundo a BBC, ganham actualmente entre os 4 mil e os 5 mil rands mensais (390 e 488 euros), querem ser aumentados para os 12 500 rands (1 220 euros). A tragédia foi exacerbada pela rivalidade entre os dois sindicatos, um deles braço direito do poder. Tudo a fazer lembrar os tempos do apartheid.
[...]"

Do artigo de Sara Sanz Pinto, publicado na página digital do jornal "i"


Entretanto, numa reedição da trágica táctica estalinista da "Frente Popular", o Partido Comunista da África do Sul pede a prisão para o líder da greve (link para uma entrada de Raquel Varela no blogue "Cinco Dias")

17.8.12

África do Sul: Agora o confronto de Classes faz-se sem a "distracção" da cor da pele



África do Sul. O fim do apartheid não varreu a brutalidade policial.


Os donos das empresas são os mesmos, os operários também.
As eleições sem restrições de cor mudaram os interlocutores políticos.
É muito? É. Mas muito pouco. Falta o resto, quase tudo.
Agora o confronto de Classes faz-se sem a "distracção" da cor da pele.
O racismo, venha de onde vier, é sempre um subterfúgio.

 

Nada curioso o argumento de alguma comunicação social de que os mineiros estavam armados de paus e outras armas artesanais, usando e abusando de imagens que colocam em evidência as lanças nas mãos de mineiros (como no "Espresso"). Uma justificação do morticínio à laia de aviso de quem por cá tenha veleidades de fazer manifestações com paus... ou imitar os mineiros das Astúrias.
Parece que a mudança geracional só trouxe ignorantes para as redacções dos jornais e das tevês. Bastaria terem curiosidade "jornalística" e darem-se ao trabalho de verem imagens de arquivo, mesmo dos tempos do apartheid, para saberem que sempre houve manifestações guerreiras na Àfrica do Sul, mesmo as mais pacíficas. "Jornalismo" de betinhos é o que dá: ou copy-paste das agêncios noticiosas ou preconceito de classe ou étnico.
Entretanto, nada de explicar os "confrontos" entre trabalhadores: grevistas e fura greves? provocadores policias? Mais umas imagens que valem pela notícia, a tão bradada "contextualização" mais uma vez atirada às urtigas.

Europa são duas palavras: "evris", amplo; "oró", olhos


"Queremos pertencer à Europa [...]. Não somos nem americanos nem asiáticos. Além disso, a palavra Europa é grega. Não a vamos dar de barato. Europa são duas palavras: evris, amplo; oró, olhos. O que tem uma vista ampla, uma visão multidimensional. Desgraçadamente, a Europa tem hoje uma visão unidimensional."


Tentativa de tradução da citação de Manolis Glezos feita no artigo "Manolis Glezos: juventud de un nonagenário" de Félix Población, escritor e jornalista espanhol, na página digital do diário espanhol "Público" (artigo em castelhano).


 http://imagenes.publico-estaticos.es/resources/archivos/2012/8/17/13451966687632col.jpg
 (foto jornal Público, Espanha)

 Manolis Glezos, 90 anos, escritor grego. Uma das figuras mais respeitadas na Grécia. Alguém que na sua juventude hasteou a bandeira grega na Acrópole da Grécia ocupada pelos nazis. Hoje é deputado do Syriza, o partido de Esquerda que ficou a 200 mil votos de ser governo.

16.8.12

A Moral, essa coisa invertebrada

Há um mentiroso carreirista que sobe a punho no partido e no aparelho de Estado, que tira vantagem do tráfico político para obter o diploma que o seu governo nega propinamente àqueles que o pretendem obter com trabalho e seriedade.
Este espécime de "tuga" continua "cantando e rindo" na nossa cara, a mandar-nos, mais a cambada que o acompanha, para o abismo e ainda é... relativizado?

Diz-me com quem andas dir-te-ei quem és.
Oh se o fulano não está bem acompanhado...

Num país decente punham-nos na prisão, aqui metem-nos no governo


 "1,06 milhões de euros em notas depositados por funcionários na conta do CDS [PP] no final de 2004

Foi literalmente aos molhos que os funcionários da sede nacional do CDS-PP levaram nos últimos dias de Dezembro de 2004 para o balcão do BES, na Rua do Comércio, em Lisboa, um total de 1.060.250 euros, para depositar na conta do partido. Em apenas quatro dias foram feitos 105 depósitos, todos em notas, de montantes sempre inferiores a 12.500 euros, quantia a partir da qual era obrigatória a comunicação às autoridades de combate à corrupção.
[...]"

Ler o resto (link para o "Público")

Entretanto os submarinos continuam submergidos...

14.8.12

Serviço Público por empresas privadas dá em Público mal servido

"Filas na Ponte 25 de Abril consomem 320 milhões de Euros em combustível
 [...]
Os comboios da Fertagus, nas horas de ponta, já não podem transportar mais passageiros, uma vez que já não há capacidade disponível, o que poderá agravar a qualidade do serviço, pois muitos passageiros têm que efectuar a viagem em pé.

Actualmente, outra das desvantagens que esta linha apresenta é o baixo número de comboios fora das horas de ponta. Um passageiro de Setúbal, por exemplo, só tem comboios de hora a hora, para Lisboa. É uma frequência muito baixa e que não serve as necessidades dos cidadãos. Esta situação está a ocorrer porque a Fertagus não adquiriu novos comboios, pois só possui as mesmas 18 unidades desde o primeiro ano de operação. Cada unidade tem um custo de perto de 5 milhões de Euros e não existe vontade e intenção de investir em novo material circulante. Outra medida que poderia aumentar o tráfego do comboio passaria pelo prolongamento do serviço desde o Areeiro até à Gare do Oriente.

Se fossem comprados mais comboios, seria possível aumentar o número de passageiros de 80 mil para 120 mil, por dia. Tendo em conta que, na região de Lisboa, em média, cada viatura transporta 1,2 passageiros, o aumento de pessoas transportadas por via-férrea, na ponte, poderia diminuir o número de carros em muitos milhares. Esta opção seria muito mais barata, simples e eficaz do que construir uma nova travessia rodoviária.
[...]"

(o sublinhado é da responsabilidade deste blogue)
Ler artigo completo no Público



Olha se fosse a CP! Haveria SICs, RTPs e TVIs todos os dias a falar "no mau funcionamento dos transportes públicos"... pelo menos até serem privatizados. Depois, a "denúncia" seria proporcional ao valor do mercado publicitário...
Falta saber quanto custa ao erário público o serviço desta empresa privada... aos passageiros, já sabemos, custa os olhos da cara.
Neste contexto, que dizer da redução de carreiras pela CP na linha Setúbal-Barreiro, conforme vem sendo denunciado pelos utentes? Atirar "a toalha ao chão" ou medida "vinda de cima" para manter os serviços a um nível aceitável para um futuro operador privado? Quem sabe, a FERTAGUS. Sendo que é a mesma empresa-mãe da operadora do comboio da ponte que domina a alternativa rodoviária, a conquista do mercado da entrada por Lisboa pelo lado da baixa seria a cereja sobre o bolo... tudo em nome da sacrossanta "concorrência".

Já agora, e só por mera curiosidade, qual foi o resultado desta petição... promovida pelo PSD de Palmela, em 2009? Será que estamos condenados a esperar por outra, no mesmo teor, mas agora promovida pelo "abstencionista violento" PS? É que isto de se ser oposição dá cá uma sensibilidade para os problemas dos cidadãos...

O melhor é esperar sentado. Falta muito para o comboio.
Ou talvez não.