30.12.10

Que saudades.

Que saudades dos tempos em que havia debates entre candidatos e não entrevistas cruzadas e interrupções sistemáticas do contraditório.

Que saudades dos tempos em que os candidatos não se sujeitavam às regras chantagistas impostas por uma qualquer "prima donna" da política para que possa haver algum "debate".
(Pensem bem...)

Que saudades dos debates "sem rede" onde os candidatos mostravam a sua capacidade de argumentação e não despejavam "sound bites" - tradução para português corrente: bocas.
(Será que as televisões mandaram previamente as perguntas para as sedes de candidatura?)

Que saudades dos tempos em que se julgava a inteligência, a argúcia e a retórica dos candidatos, e não o trabalho de "merchandising" dos consultores de imagem. (Que hoje vendem um presidente e amanhã um detergente)

Meus caros: quem "ganhou" o confronto foi Judite de Sousa, o resto é clubismo barato.

A este propósito:
Que saudades dos tempos em que os jornalistas tinham mais cabeça que umbigo!

29.12.10

Foi você que falou em Relações Públicas?

Tudo por causa de um telemóvel com avaria...
Aqui está um Case Study (estudo de caso) obrigatório em todos os cursos de marketing.
Sem delongas, deixo os links:

Artigo no "Diário de Notícias"
Artigo no "Expresso"
Vídeo (hilariante) no YouTube.


Sai um "La Palice" para a mesa do canto:

Vender qualquer um é capaz (façamos um suponhamos), mais publicidade menos publicidade, enganosa ou não. O problema é saber lidar com os clientes quando há conflitos. Para o fazer bem, está provado, não basta ter uma carinha "laroca" ao balcão. O cliente quer respostas. Assim, há que ter tacto, e sobretudo aquela coisa que Descartes dizia ser a mais bem distribuída do mundo porque ninguém reclama mais: o bom-senso.

Já se sabe que os consumidores "camaleões" - os que adoram novidades e andam sempre a mudar de marca - são o pesadelo dos departamentos de marketing das marcas no que à fidelização diz respeito. Mas, tal como na Física os corpos tendem para o estado de repouso, a maioria dos consumidores não tem o hábito de mudar de marca ou prestador de serviços frequentemente. Por uma razão simples: a segurança. Ou, utilizando a gíria do futebol, "em equipa que ganha não se mexe".
Assim, exceptuando uma novidade premente não acompanhada pela marca tradicional de cada um, a maioria dos consumidores não muda de marca por uma diferença de cêntimos num preço. Muda de marca se se desilude com as expectativas em relação ao produto/serviço ou... com o serviço pós-venda. Neste caso, muda quase sempre. Muda de marca porque se zanga.
Está provado (até ao pasmo, por haver muita gente que ainda não percebeu): um serviço pós-venda ineficiente estoira com o trabalho dos serviços a montante.

O nome de uma empresa é porventura o elemento mais importante no contexto de uma economia concorrencial - que alguém explique isto aos empresários portugueses que adorariam que os "colaboradores" fossem todos "chineses"...
Para colocar o nome de uma empresa nas ruas da amargura não é preciso muito, pode ter-se um produto/serviço com saída e gastar-se uma pipa de massa em consultores para se ter uma boa política de Relações Públicas... e depois o porteiro, a telefonista, ou alguém a quem é comum pagar "abaixo de cão", deitar tudo a perder num contacto com um cliente importante.
A formação e o respeito pelos "colaboradores" também faz parte do investimento em Relações Públicas, caso contrário, não há exército de advogados capaz de limpar um nome de uma empresa conhecida por maltratar os seus clientes... ou os seus trabalhadores.
Nos tempos que correm os consumidores já não estão dependentes das "Cartas ao Director" de um qualquer jornal a cujo proprietário se pode sugerir uma página de publicidade... Ainda bem.

Debates sem Linguagem Gestual = discriminação

A foto publicada no "Público" online mostra uma manifestação
contra a discriminação da Comunidade Surda,

ocorrida ontem, durante um debate televisivo entre dois dos candidatos à presidência da república.
Todavia, o artigo que acompanha a foto não traz nenhuma referência à manifestação.


Procurei no artigo alguma referência à foto que o emparceira... algum discurso directo de quem empunhou os cartazes. Nada. Afinal, somente um "apontamento" fotográfico, como se de um grupo de apoio a um dos candidatos se tratasse.
A coisa, porém, é mais séria e devia merecer maior visibilidade: há um grupo de concidadãos que está impedido de ter acesso aos debates eleitorais porque os canais não disponibilizaram técnicos de Linguagem Gestual durante as emissões.
Já é tempo de haver uma Lei que obrigue a que todos e quaisquer debates políticos na televisões, mesmo fora da época eleitoral, tenham técnicos de Linguagem gestual - por favor, não me digam que já existe!
Deixar ao critério das TV é o pior que se faz, e não venham com as "dificuldades económicas", as estações pagam salários pornográficos às estrelas dos canais - ao mesmo tempo que vivem do jornalismo precário...
O que é notório neste particular é que as televisões fazem o que querem, definem as regras e ainda recebem dinheiro pelo "Serviço Público". E desenganem-se, não é só a RTP que recebe dinheiro, qualquer canal privado que passe um debate ou um tempo de antena tem "compensação económica" por isso.

28.12.10

Os dodôs também voavam, mas baixinho

(Um comentário aos comentários de um comentário de Daniel Oliveira no "Expresso")

Retrato: Quando a mensagem não me agrada, fogo sobre o mensageiro. Que arda, para que a realidade não me queime os olhos. Que arda, obliterada pela minha opinião de destruição maciça. Que o meu comando de fogo ecoe nas gargantas de todos os exaltados das mesas de café deste país: "Eles são todos iguais!".
Realismo: E depois, depois votar naqueles que tirei quando lá pus estes. Para que o “pus” não rebente, antes o furúnculo que a incerteza da cura.
Memória: Nada que me lembre a minha culpa, o meu voto, vale a minha atenção. Memória? Só a de rédea curta, vazia.
Memória, ainda mais curta: A história desta crise começou com Sócrates. Sim, antes era o Verbo… talvez a espada de cinco quilos de D. Afonso Henriques, mas tal não está cientificamente provado.
Efabulação: O candidato Cavaco é “o candidato” (não é o candidato do PSD e do CDS), o anátema é de Manuel Alegre “o candidato do PS e BE”, de Francisco Lopes “ candidato do PCP”. Fernando Nobre (chatice...) o candidato com raiva de ser candidato?
Lógica: O candidato Alegre é militante do PS, o PS apoia (?) Alegre, Sócrates é do PS... logo Louçã apoia Sócrates.
Noves fora, nada: A culpa disto é do Louçã.
Meteorologia: Em Portugal a chuva tem grandes intervalos, todos bem preenchidos de nevoeiro.
Metáfora: De cima das nuvens negras que fabricara, o rei prometeu aos habitantes de Amnésia o sol ao fim do caminho chuvoso e trovejante. Foi ouvido novamente. O mastigar ensurdecedor do abismo testemunha-o.

27.12.10

O candidato Cavaco e as Mulheres

Uma das poucas leituras disponíveis sobre "as mulheres" nos tempos da juventude do candidato Cavaco era a "Crónica Feminina". Qualquer tipo de alternativa, mesmo vinda de meios menos comprometedores como o dos católicos progressistas, poderia acarretar problemas de "integração" no regime... Sendo assim, só as mentes mais perversas não desculparão a falta de curiosidade do candidato Cavaco. Afinal, um Homem é moldado pelo Meio. (pode-se aceitar Rousseau se for para absolver o candidato Cavaco, certo?)

De qualquer forma (agora estranhando), volvidos quarenta anos de democracia e após tantos debates sobre o Divórcio, a Igualdade Salarial, o lugar da Mulher na Família e no Emprego e as lutas de mulheres (como Natália Correia), distinguir a Mulher apenas na perspectiva de "Fada do Lar" (se bem me lembro, o nome de outra revista de antanho) é algo assim a modos que residualmente... retrógrado.

E juntar esta ideia estereotipada sobre "a força do sexo fraco" à da caridade, e colocar uma pitadinha do ficar quietinho e caladinho a ver se não dão por nós para fazer um programa político... mais as vingançazinhas... e o sou amigo do meu amigo... enfim, até um liberal de direita terá vergonha de um presidente assim.

A desgraça deste país deve-se a uma coisa tão simples como os políticos fazerem política a partir das fantasias que anteriormente inculcaram no povo. Através desta lupa, é verdade, o candidato Cavaco é o que melhor representa... o que este país é.

(chamo a atenção de que, tal como a comunicação social de referência, eu não escrevi "candidato apoiado pelo PSD e pelo CDS", como todos sabemos um anátema reservado a Manuel Alegre, "candidato do PS e do BE", a Francisco Lopes "candidato do PCP" e a Fernando Nobre, candidato com raiva de ser candidato).

22.12.10

4 milhões de "baixas" fraudulentas

"A Segurança Social descobriu 67 mil baixas fraudulentas até Outubro deste ano, o que representa uma subida de 45,6 por cento face às cerca de 46 mil detectadas no mesmo período de 2009". Reporta o "Público".

Ironizando: ao contrário da fraude do BPN, que beneficiou muito pouca gente, as baixas fraudulentas são mais "democráticas" porque beneficiam mais pessoas. Há ainda outra ironia: a maioria dos aproveitadores das baixas fraudulentas descontaram para essa baixa, ao contrário dos BPN evadidos, defendidos por advogados milionários ou angélicos candidatos a presidente da república. É "imoral", sim senhor. Mas garanto que este país seria bem melhor se uma parte da raiva contra a lesão de 4 milhões de euros se virasse para quem se apoderou e fez gastar centenas de milhões.
Ladrões, já se vê, só há na rua. É como o abuso de álcool: se é rico é espirituoso se é pobre é bêbado. E não há "vídeo-vigilância" que nos valha... a jornalista do debate de ontem da TVI fez questão de menorizar a importância da coisa do BPN.

17.12.10

Ensino Privado

Nestas coisas das viagens marítimas é importante investir num preço de bilhete mais caro, na classe exclusiva. Além da qualidade óbvia do serviço, tem-se prioridade no acesso aos salva-vidas. Devido ao número reduzido de lugares disponíveis nas pequenas embarcações de recurso, é importante que haja um selecção rigorosa dos passageiros. A forma mais democrática de o fazer é através do preço, sob pena de banalizar a classe exclusiva e baixar a qualidade do serviço. Quem serviria a classe executiva se fossem todos executivos? E que sentido faria um navio que desafiasse a lei natural das coisas ao não ter gente a viajar no porão? Quem pagaria todo esse monstruoso espaço vazio debaixo dos nossos pés, os que já fazem sacrifícios para pagarem a classe executiva? E mais: quem satisfaria as expectativas dos tubarões acaso o navio se afundasse?

Auto-estrada para lado nenhum

"Governo prepara desmembramento da CP que ficará reduzida ao longo curso", diz o "Público".

"O caminho-de-ferro é o transporte do futuro"... e tal.
Primeiro desmembraram a CP em "áreas de negócio", meteram nas mãos dos privados o que era rentável, deixaram o "osso" ao Público retirando-lhe a possibilidade de auto-financiamento. Para que o plano resultasse "enfiaram" na empresa gente que, de comboios, só conhecia aqueles "kits" que lhes ofereciam pelo Natal quando eram miúdos.

Como é que uma empresa sobrevive se lhe retiram a parte das receitas e só lhe deixam a conservação, que porra de Plano Ferroviário tem este país? Inexplicável tanta estupidez! Não hão-de agora falar em despedimentos na CP...

Cavaco deixou escola quanto ao modelo de desenvolvimento
(sim, não se esconda Sr. Presidente, os jornalistas não lho perguntam mas há quem tenha memória neste país!).
Este país em termos de futuro é uma auto-estrada para lado nenhum.

15.12.10

John Lennon, um dos nossos!

Faz hoje oito dias, em 8 de Dezembro,que passaram 30 anos sobre o assassinato de John Lennon que, se fosse vivo, teria feito 70 anos em 30 de Outubro.

Não é preciso lembrar o valor de John Lennon como artista, quase ninguém nega que se trata de um dos maiores músicos da história, quem duvidar tem os “Beatles”, um grupo que em poucos anos ganhou um lugar ímpar num século tão ilimitado musicalmente como foi o Século XX.

O que aqui se pretende enfatizar é o seu enorme valor político, distorcido e muitas vezes esquecido, que, ligado ao talento musical, fez de John a pessoa única que foi.

Lennon não foi um pacifista "hippie" e ingénuo como pretende o olhar oficial, era um revolucionário, internacionalista, mesmo marxista, que colaborou com diveros grupos da "esquerda radical" dos Estados Unidos, Irlanda e Inglaterra, além da sua mundialmente famosa militância contra a ocupação norte-americana do Vietname. Alguém que, como poucos, soube entrelaçar maravilhosamente a arte e a revolução.

Embora nos seus primeiros anos com os “Beatles” a sua fórmula musical não tivesse a pretensão de qualquer conteúdo político, e fosse mais o penteado que as letras da banda que incomodavam a Situação, e até tenha recebido uma condecoração da Coroa Britânica (que acabou por devolver em 1969 em protesto pelo envolvimento britânico no Conflito Nigéria-Biafra e no Vietname), o próprio John Lennon acabou com a trivialidade da sua imagem gerando a sua primeira polémica quando, em 1966, declarou provocatoriamente que os “Beatles” eram mais populares que Jesus Cristo – uma afirmação da qual viria a pedir desculpas.

Após o rompimento com os Beatles, e a sua união com a artista vanguardista japonesa Yoko Ono, John Lennon perdeu o temor de expressar por completo as suas inquietações existenciais e políticas. Daí em diante a arte foi a arma que utilizou contra todas as opressões, experimentou falar directamente sobre política nas suas músicas, como em "Revolution" (Revolução), uma canção controversa por causa da crítica ao maoísmo, muito em moda na época, e tida por “reaccionária” por algumas perspectivas de Esquerda.

Lennon foi simpatizante de uma organização trotskista britânica liderada por Tariq Ali. Na foto, com Yoko, numa manifestação a favor do IRA contra o imperialismo britânico na Irlanda. Exibe o “Red Mole” (Toupeira Vermelha), um jornal da Secção Britânica da Quarta Internacional publicado nos anos 60/70.


O activismo de Lennon contra a Guerra do Vietname entrou para a história com acontecimentos épico-publicitários como a famosa lua-de-mel (1969) com Yoko Ono, convertida em “bed-in”: aproveitando o apetite pela escandaleira por parte da imprensa, o casal passou uma semana inteira na cama de um quarto de hotel para onde haviam convidado a imprensa mundial entre as 9 e as 21 horas da noite… após o lançamento do álbum “Two Virgins”, em cuja capa Yoko e Lennon aparecem nus, a imprensa esperava assistir a uma cena de sexo em público, debalde, acabaram uma semana inteira a ouvir discursos sobre a Paz e contra a Guerra.

É destes tempos o "Give Peace a Chance "(Dêem Uma Oportunidade à Paz), que se tornou o hino do movimento anti-guerra, e a intervenção artística consecutiva em espaços públicos nas ruas de Nova Iorque, Tóquio, Roma, Atenas e Londres, com uma única frase: "A Guerra Acabou (se quiseres)". Mas este anti-belicismo, e anti-imperialismo com o qual também enfrentou a ocupação britânica da Irlanda com canções como "Sunday, Bloody Sunday" (Domingo Sangrento) e "The Luck of The irish” (A Sorte dos Irlandeses) é apenas uma das suas facetas, também o seu feminismo é retratado em "Woman Nigger Of The World” (A Mulher é o Preto do Mundo), onde Lennon faz uma denúncia implacável da sociedade patriarcal em que vivemos.

Mas não só: o seu espírito revolucionário irrompe em "Power To The People” (Poder ao Povo) e sua identificação com a classe trabalhadora, que declarou em diversas entrevistas, pode ser escutada no lindíssimo e tocante “Working Class Hero" (Herói da Classe Operária).

Lennon e Yoko Ono, em frente à famosa pintura da Bandeira dos EUA
com caveiras em vez de
estrelas a representarem os Estados da União.


Lennon tornou-se um amigo próximo de militantes radicais, como Yippies Jerry Rubin e Abbie Hoffman, e do líder do Panteras Negras, Bobby Seale. Graças à sua participação num festival pela libertação de John Sinclair (membro dos “Panteras Brancas”) em 1972, o activista haveria de ser libertado três dias depois. Contribuiu ainda financeiramente para muitas organizações e campanhas nos EUA, Inglaterra e Irlanda, sendo assinante do “Red Mole” (Toupeira Vermelha, um jornal trotskista britânico) e outros periódicos de Esquerda. Pelo caminho ainda doou um milhão de dólares ao cineasta chileno Alejandro Jodorowsky pelo valor antimilitarista do filme "El Topo" (A Toupeira). Com todas estas qualidades e acções, Lennon ganhou a atenção e perseguição do FBI e da CIA, que tentaram deportá-lo durante anos.

Mais tarde, os seus perseguidores conseguiriam a vitória mais óbvia e mais directa: Em 1980 John Lennon foi morto por cinco tiros disparados por um certo Mark Chapman, que terá assassinado o artista devido à sua loucura.

Há, todavia, quem questione como é que o assassino terá passado milagrosamente pelos serviços aduaneiros dos EUA sem que ninguém tivesse detectado a sua arma, e também quem acuse que o tresloucado autor dos disparos estaria cheio de psicofármacos utilizados pela CIA.

Para concluir, o valor da sua música imortal "Imagine".

Se procuramos por debaixo da etiqueta de uma mera canção pacifista, "utópica", om que a pretendem cobrir de forma prudente, descobriremos na sua letra um autêntico manifesto revolucionário e socialista resumido num punhado de simples, belas e geniais frases: a primeira estrofe rompe com a religião e idealismo, a segunda mostra o absurdo de dividir a humanidade em países, a terceira ataca directamente a Propriedade como a razão particular para a fome e a inveja pregando a fraternidade entre os homens.

Este “resgate” do John Lennon revolucionário não pretende ser uma reivindicação política, tal seria um acto sectário e estúpido, já Marx dizia que “o Génio Humano não tem Classe Social”… Ressalvado isto, perdoem que o autor destas linhas não esconda o seu orgulho de pertencer à mesma Classe que produziu John Lennon e que possa acabar este texto assim: Um dos nossos!


Este texto não foi colocado no dia porque o autor quase nem se apercebeu da efeméride devido ao silêncio dos media. E uma referência deontológica importante: o que acabou de ler foi baseado na homenagem assinada por Ernesto Alaimo no jornal argentino "Socialismo o Barbarie", donde provêm também as imagens. Foram utilizadas algumas informações disponíveis na Wikipédia e introduzidos vários apontamentos pessoais. Por esta razão, e por respeito ao autor aqui referido, informa-se que este texto não pretende ser uma tradução.


Vídeo de "Working Class Hero"

(origem: YouTube)




"Working Class Hero"

[John Lennon]

As soon as your born they make you feel small
By giving you no time instead of it all
Till the pain is so big you feel nothing at all
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

They hurt you at home and they hit you at school
They hate if you're clever and they despise a fool
Till you're so fucking crazy you can't follow their rules
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

When they've tortured and scared you for twenty odd years
Then they expect you to pick a career
When you can't really function you're so full of fear
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

Keep you doped with religion and sex and TV,
And you think you're so clever and you're classless and free,
But you're still fucking peasants as far as I can see,
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

There's room at the top they are telling you still
But first you must learn how to smile as you kill
If you want to be like all the folks on the hill
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

If you want to be a hero, well just follow me
If you want to be a hero, well just follow me



Tentativa de tradução em português
(aceitam-se propostas de melhoria)

Herói da Classe Trabalhadora

Assim que nasces fazem-te sentir pequeno
Não te dando tempo nenhum ao invés de todo
Até que a dor é tão grande que já não sentes nada
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser

Eles magoam-te em casa e batem-te na escola
Eles odeiam-te se és esperto e desprezam um tolo
Até que estejas tão fodido do juízo
que não consigas seguir as suas regras
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser

Após torturarem e assustarem-te
durante vinte estranhos anos
Então esperam que escolhas uma carreira
Quando já não consegues racionar encheste de medo
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser

Mantêm-te alienado com religião sexo e TV
E achaste-te muito esperto sem Classe e livre
Mas continuais uns plebeus fodidos
tanto quanto posso ver
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser

Há um lugar ao sol, dizem-to repetidamente
Mas primeiro precisas de aprender a sorrir
enquanto matas
Se quiseres ser como a gente do topo
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser

Se quiseres ser um herói então basta seguires-me
Se quiseres ser um herói então basta seguires-me

Os "inhos" estão de regresso.

Há cada vez mais pessoas que não vivem, sobrevivem. Passam o dia num esforço terrível de se agacharem perante os outros para se conseguirem manter de pé, dispõem-se a fazer coisas que jamais lhes passariam pela cabeça, como pedir. É um pedir que se distingue porque está longe das técnicas mais persuasivas da pedinchice, aproximam-se da indiferença ou das misérias camufladas alheias como se tivessem vergonha de respirar o mesmo ar daqueles a quem estendem a mão. Pedir para comer, a suprema humilhação de quem não tem habilitações, conhecimentos, ou qualquer tipo de destreza que possa ser trocada por dinheiro. A que fazia limpezas para meter pão à frente do filho e que lhe vai faltando o trabalho porque as "senhoras" passaram a tratar elas mesmas dessa tarefa, a outra que só engomava, aquela que perdeu o lugar para uma prostituta mais nova. Não meninos, não é Sebastião Salgado de cordel, é já ter visto as pessoas noutras condições, noutras ilhas menos ameaçadas pela submersão completa.

Antes de ontem vi um homem ser parado pela polícia à saída de um supermercado, levava dentro das calças dois caldos "Knorr"... Reparei na vergonha do homem e no polícia desarmado perante a situação. E no incómodo que se apoderou dos demais que estavam na bicha da caixa. Não era mal-estar porque alguém se atravessara à frente da rotina diária, era outra coisa. O silêncio.
Sem qualquer expressão de vitória, o guarda que complementava o soldo fazendo de segurança devolveu o artigo às mãos de uma funcionária que parecia mais comprometida que o assaltante. O homem que havia sido privado dos seus intentos foi conduzido à rua - não era um "habitué", esses "são conhecidos e devidamente vigiados" quando deambulam por entre as prateleiras.
Não vislumbrei por entre os olhares entrecruzados desaprovação pela atitude do polícia tornado juiz, não li ali a raiva justiceira das caixas de comentários dos jornais. A exibição dos dois cubinhos daquela mistela que empresta à água o sabor da carne foram o castigo suficiente para o homem.

A "caridadezinha" foi um exercício que me habituei a ver quando era miúdo, na sopa que se dispensava a um que tinha deixado o braço direito no Ultramar, nas batatas que se embrulhavam num jornal para esconder a miséria de outra, separada, que vivia das limpezas. Vivi num país onde não havia Segurança para os mais pobres dos pobres. Onde as viúvas comiam do peixe solidário apanhado por camaradas do afogado. E rezas, muitas, as duas mãos unidas à frente dos lábios e olhos em baixo. Não havia Solidariedade mas Caridade. Salazar dava o exemplo lá do meio do seu galinheiro, "devia-se adoptar um pobrezinho". O pior de tudo: a filha-da-putice dos "inhos"!

As ondas hertzianas que atravessaram o ar mais limpo do Verão de 1974 trouxeram amiúde o "não vamos brincar à caridadezinha, festa, canastra e boa comidinha"... era o levantar dos olhos. Os mesmos olhos que vi baixarem-se outras vez diante de dois caldos "Knorr".

Pois bem, irmãos do infortúnio, os "inhos" estão de regresso. Cavaco é o seu presidente.


Este texto é uma versão mais cuidada de um comentário colocado no blogue "Arrastão" a propósito de um (excelente) post de Miguel Cardina.

13.12.10

Obras arrancam no Portinho da Arrábida

Finalmente começaram as obras de reparação da travessia entre o Portinho da Arrábida e o Creiro, um caminho cujo estado de conservação foi o sujeito de muitos protestos que se fizeram ouvir na imprensa local e também nas televisões nacionais.

Há muito tempo que parte desta travessia "reservada a peões e veículos de segurança" tinha abatido, pela acção erosiva das águas das marés, sem dúvida, mas também devido à inconsciência de muito automobilistas para quem o caminho representa um atalho para poupar uma pequena volta pela serra.

Após estas obras pagas pelo erário Público, esperemos que as autoridades coloquem meios de dissuasão que impeçam a destruição do trabalho pelos rodados dos jipes e outros veículos "aventurosos" de natureza Privada... Quanto à força das marés, tendo em conta as resoluções saídas das recentes Cimeiras Climáticas, continuarão a subir inusitadamente.

"Papagaio louro de bico dourado..."

A imprensa portuguesa não "wikileaka", papagueia os leaks dos outros:


O Público, "segundo"... o El País, claro.

O Diário de Notícias, "veja aqui"... o que o El País publica.

Mais exemplos?
Para quê ler as sábias interpretações dos nossos filtros de informação quando podemos ter acesso ao original e pensar pela própria cabeça?

6.12.10

Uma fábula que não é do reino animal

(…) Se eu mandasse neles / os teus trabalhadores / seriam uns amores: / greves eram só/ das seis e meia às sete, / em frente a um cassetete; / primeiro de Maio / só de quinze em quinze anos; / feriado em Abril, / só no dia dos Enganos (…)

Sérgio Godinho



Ou resolvemos no imediato a situação, nomeadamente contra-atacando com a exigência não apenas a reposição de direitos alcançados como ampliando o grau dos mesmos, ou estamos condenados a uma regressão civilizacional de contornos imprevisíveis.
Repare-se na histeria dos media, dos patrões, dos economistas e dos políticos neo-liberais a propósito do calendário de feriados para o ano 2011. Todos à uma, se preparam para mais um avançada nesta luta titânica entre os detentores dos meios de produção e os detentores da força de trabalho, leia-se patrões e trabalhadores sejam estes últimos detentores de contratos de trabalhos ou precários. Os primeiros Já estão a ganir, como cães esfaimados perseguindo a manada onde pressentem uma qualquer fraqueza, uma qualquer fragilidade. A pretexto dos feriados do calendário para o ano 2011, onde alguns deles podem proporcionar “pontes”, nomeadamente os que coincidem com as terças e quintas-feiras como são os casos do 20 de Abril, do 10 e 23 de Junho, do 15 de Agosto, do 1 de Novembro ou do 1 e 8 de Dezembro e eventualmente mais um ou outro, preparam-se para mais uma investida dura no que confere aos direitos de quem trabalha e produz riqueza. Já querem renegociar com a Santa Sé os feriados religiosos. Cavaco, já uma vez pretendeu legislar no sentido de suprir ou deslocalizar feriados nacionais. O 1º de Maio e o 25 de Abril estavam entre eles.
Curiosamente, calam-se como os ratos, no que confere aos feriados de 1 de Janeiro, de 25 de Abril, de 1 de Maio ou de 25 de Dezembro que coincidem com dias de descanso semanal.
Na vida real, os cães de fila são apenas isso, cães…
Espalhafatosos e barulhentos, não são sérios nem credíveis, são apenas serviçais que agitam e afugentam as manadas, desnorteando-as para que os verdadeiros predadores, as possam caçar isoladamente, sem os riscos que a força colectiva lhes pode causar.
Ah, os cães!... Pois, os propriamente ditos, da carne comem pouco, saciam-se com os ossos que sobram da refrega.
Fabulando ou não das duas uma; ou a manada continua a desvalorizar as investidas dos cães e estes executam livremente o seu papel, desfazendo a sua coesão e expondo-a às garras dos predadores, ou esta reinveste na força colectiva como garante da sua própria sobrevivência. Ao afugentar desde já a canzoada, mantém-se coesa para enfrentar os predadores.
Até porque no que confere à sobrevivência, as manadas não dependem dos predadores, são estes que dependem delas…


Também edidato no Ribeiro da Fonte

2.12.10

"O Silêncio é de Ouro", dizem.

O "WikiLeaks" só veio demonstrar aquilo que há muito alguns denunciam, muitos desconfiavam e a maioria continua a ignorar: a informação produzida pelos "media" corporativos está subjugada a agendas políticas pré-determinadas pelos poderosos e pretende adormecer os cidadãos com verdades convenientes.

Os "media" já não são o último reduto crítico da Democracia, são parte da super-estrutura ideológica destinada a fabricar consentimentos para guerras, políticas e decisões económicas injustas, apresentando-as como inevitáveis e sem alternativas.

Os jornalistas, cada vez mais precarizados, desrespeitados - e sem se darem ao respeito! - garantem que não se fuja do "enfoque". Até que a Democracia seja uma coisa tão formal que uma Ditadura nos pareça coisa banal e "ordeira".

Quem pensa que os fascistas se anunciam com passos de ganso, desengane-se, não é só o diabo que veste "Prada"... nos dias de hoje a locutora do programa da tarde vende melhor Ideologia que um histérico de bigode aos gritos.