A propósito dos incidentes de ontem que envolveram a polícia e sindicalistas que desmobilizavam de uma reunião sindical, reproduzo aqui, com a devida vénia, uma pérola encontrada no blogue "Cinco dias". Não sei porquê, fica à imaginação de cada um, o naco de prosa que aqui se reproduz fez-me lembrar "o único gay da aldeia" daquela série humorística da BBC "Little Britain".
Sem mais delongas e advertindo que há leituras que devem ser acompanhadas de um balde para o que der e vier, abrem-se aspas:
E os oportunistas, conseguem dormir? Esta tarde, testemunhei a violência nos arredores da residência oficial do primeiro-ministro. Depois de um plenário de dirigentes e activistas sindicais, a polícia barrou a saída aos trabalhadores e ordenou-lhes que dessem a volta ao quarteirão. E como os direitos se defendem exercendo-os, avançámos sem medo. Atiraram-se como cães esganados. Simplesmente, porque íamos para casa por onde queríamos e não por onde eles queriam. Houve gente pontapeada no chão. Bastonadas a torto e a direito. Saltaram vários polícias infiltrados à paisana. Tudo valeu para reprimir a luta dos trabalhadores.
No fim, apesar da dura resistência, conseguiram levar detidos dois sindicalistas. Mas ninguém arredou pé. Durante várias horas, a estrada esteve cortada pelos trabalhadores. Ninguém se calou. Ninguém quis sair sem o regresso dos camaradas. A meio, apareceu a solidariedade dos deputados do PCP. Depois a mensagem da deputada do Bloco de Esquerda. É preciso ter coragem quando se anda de mão dada com os donos dos que bateram nos trabalhadores.
Esta noite, pesará a consciência a muitos polícias. A outros nem por isso. Já o governo, o PS, o PSD e o PP dormirão tranquilos. Cumpriram o seu papel. Os trabalhadores também.
E os membros do Bloco de Esquerda? Conseguirão dormir?
Fecham-se aspas.
EDITADO:
O autor da prosa acima voltou à carga. Como já fiz aqui uma excepção higiénica, limitar-me-ei a reproduzir a minha resposta.
De como a cegueira sectária não deixa distinguir o verdadeiro inimigo
Primeiro sugere-se que as deputadas do Bloco não deviam ter estar presentes na manifestação, insinua-se que o apoio a Alegre significa sustentar a carga policial. Acaso, pediu o cartão de partido a todos quantos lá estavam para ver se eram todos ideologicamente puros?
O mais engraçado é que a crítica vem de quem votou em Eanes, Mário Soares e Sampaio, e que apresentou um candidato contra Otelo quando este, apesar de tudo (eu disse: “apesar”), significava a resistência popular à avalancha da “recuperação capitalista”. Alguém aqui falou em “coveiros”?! Confidencio: eu também fiz campanha por Octávio Pato e, independentemente dos disparates de Otelo, estive errado.
Lembro-lhe que muitas lutas em Portugal foram feitas não devido mas apesar do PCP, quer que lhe lembra as greves e ocupações “reaccionárias” só porque eram decididas pelos trabalhadores e não pela esclarecida célula do partido? Ou prefere que lhe fale da expulsão de trabalhadores de plenários sindicais apenas porque queriam falar de forma diferente? Ou porque propunham uma greve geral que ainda não havia sido decidida pelo comité central? Eu fi-lo contra Judas, apesar da “avaria” do sistema de som. “Coveiros da classe trabalhadora?” Interessante adjectivo vindo de onde vem!
O seu ex-camarada Miguel Portas e outros que estão no Bloco passaram de revolucionários proletários a agentes da burguesia quando saíram pela porta do Hotel Vitória? Só para falar de gente por quem não nutro especial simpatia política. Mas não confundo.
A confusão das opções tácticas com as opções estratégicas, a incapacidade da crítica política sem se aludir à “natureza de classe” do interlocutor – que chega ao ridículo da alusão às profissões das pessoas, anedoticamente proferida por quem saiu da escola para funcionário do partido ou há 30 anos que não põe os pés na empresa. Como se a Classe Trabalhadora fosse uma marca registada do PCP! À falta de outra coisa, recomendo-lhe o”FMI” do Zé Mário – mais um gajo que não presta por não ser do seu partido, né?
Depois, afinal, é a Grécia, um voto muito discutível dos deputados do Bloco – e que, garanto-lhe pelo que sei, ainda vai ser discutido – conheço gente do Bloco que não se esquece, fazem bem. Outra vez a lama da “natureza de classe”. Como se o facto do PCP ter ficado na cadeira parlamentar o tornasse amigo da coroa espanhola! Ou amigo dos chineses por causa da recepção – bem, neste caso não duvido. Já perguntou aos seus camaradas gregos o que pensam disso, ou será que também estes já mudaram a sua “natureza de classe” ao considerarem a China um país capitalista? Pois. Vai haver uma cisão no movimento comunista por causa disso, à laia das anedotas “trotskistas”?
Só para esclarecer, o que aqui escrevi fi-lo por respeito aos meus companheiros que são do PCP e estão longe da caricatura que aqui fez… deles. E dos do Bloco, já agora.
Não percebe porquê? É a Natureza de Classe, pá.
EDITADO:
O autor da prosa acima voltou à carga. Como já fiz aqui uma excepção higiénica, limitar-me-ei a reproduzir a minha resposta.
De como a cegueira sectária não deixa distinguir o verdadeiro inimigo
Primeiro sugere-se que as deputadas do Bloco não deviam ter estar presentes na manifestação, insinua-se que o apoio a Alegre significa sustentar a carga policial. Acaso, pediu o cartão de partido a todos quantos lá estavam para ver se eram todos ideologicamente puros?
O mais engraçado é que a crítica vem de quem votou em Eanes, Mário Soares e Sampaio, e que apresentou um candidato contra Otelo quando este, apesar de tudo (eu disse: “apesar”), significava a resistência popular à avalancha da “recuperação capitalista”. Alguém aqui falou em “coveiros”?! Confidencio: eu também fiz campanha por Octávio Pato e, independentemente dos disparates de Otelo, estive errado.
Lembro-lhe que muitas lutas em Portugal foram feitas não devido mas apesar do PCP, quer que lhe lembra as greves e ocupações “reaccionárias” só porque eram decididas pelos trabalhadores e não pela esclarecida célula do partido? Ou prefere que lhe fale da expulsão de trabalhadores de plenários sindicais apenas porque queriam falar de forma diferente? Ou porque propunham uma greve geral que ainda não havia sido decidida pelo comité central? Eu fi-lo contra Judas, apesar da “avaria” do sistema de som. “Coveiros da classe trabalhadora?” Interessante adjectivo vindo de onde vem!
O seu ex-camarada Miguel Portas e outros que estão no Bloco passaram de revolucionários proletários a agentes da burguesia quando saíram pela porta do Hotel Vitória? Só para falar de gente por quem não nutro especial simpatia política. Mas não confundo.
A confusão das opções tácticas com as opções estratégicas, a incapacidade da crítica política sem se aludir à “natureza de classe” do interlocutor – que chega ao ridículo da alusão às profissões das pessoas, anedoticamente proferida por quem saiu da escola para funcionário do partido ou há 30 anos que não põe os pés na empresa. Como se a Classe Trabalhadora fosse uma marca registada do PCP! À falta de outra coisa, recomendo-lhe o”FMI” do Zé Mário – mais um gajo que não presta por não ser do seu partido, né?
Depois, afinal, é a Grécia, um voto muito discutível dos deputados do Bloco – e que, garanto-lhe pelo que sei, ainda vai ser discutido – conheço gente do Bloco que não se esquece, fazem bem. Outra vez a lama da “natureza de classe”. Como se o facto do PCP ter ficado na cadeira parlamentar o tornasse amigo da coroa espanhola! Ou amigo dos chineses por causa da recepção – bem, neste caso não duvido. Já perguntou aos seus camaradas gregos o que pensam disso, ou será que também estes já mudaram a sua “natureza de classe” ao considerarem a China um país capitalista? Pois. Vai haver uma cisão no movimento comunista por causa disso, à laia das anedotas “trotskistas”?
Só para esclarecer, o que aqui escrevi fi-lo por respeito aos meus companheiros que são do PCP e estão longe da caricatura que aqui fez… deles. E dos do Bloco, já agora.
Não percebe porquê? É a Natureza de Classe, pá.