23.2.09

A "porra dos sobreiros" continua a assombrar Setúbal

"Sobreiros podem impedir investimento de 33 milhões", lê-se hoje no trissemanário "O Setubalense":
"Existe, por parte da empresa francesa Decathlon, um interesse em criar uma loja e um centro de logística, em Poço Mouro, no entanto, devido a cerca de cem sobreiros que se encontram naquela área, é necessário pedir a Declaração de Imprescindível Utilidade Pública, que, em primeira instância, só será possível obter através da Declaração de Interesse Municipal, emitida pela Assembleia Municipal.
Trata-se de um projecto de investimento que envolve uma loja e um centro de logística, que correspondem a um investimento previsível na ordem dos 33 milhões de euros, com uma perspectiva de criação de 420 postos de trabalho directos e 500 indirectos.
Estes dados foram indicados anteontem, pelo vereador André Martins, em sessão de câmara, onde foi sugerido que a proposta de implementação destas estruturas em Poço Mouro, fosse submetida à aprovação da Assembleia Municipal, para que esta possa declarar o interesse municipal neste empreendimento. [...]"
(Resto do artigo aqui)

Está visto, mais uns sobreiros que vão para Vendas Novas. Depois das centenas de árvores que foram expulsas pela "Nova Setúbal", quer-me parecer que qualquer dia a população de Vendas Novas já não tem espaço para tantos exilados do Concelho de Setúbal...


Versão setubalense do "nós pimba":
"E se uns sobreiros
atrapalham o negócio da gente...
Nós PIN! Nós PIN!"

Só pode ser brincadeira de Carnaval...

No mesmo número do jornal, dá-se conta da intenção da Câmara Municipal de Setúbal em alterar o uso dos solos industriais da zona da Mitrena, "Câmara aprova elaboração de Plano de Pormenor":

"A autarquia autorizou, anteontem, em sessão pública, uma equipa técnica designada pela PLURAL, Planeamento Urbano, Regional e de Transportes, Lda. a elaborar um Plano de Pormenor para a Península da Mitrena, com a duração de oito meses.
Este estudo pretende que, no futuro, se possam implementar naquela área industrial, actividades bastantes diferentes como “habitações, hotéis e, possivelmente, uma unidade de ensino superior na área da tecnologia”, refere o vereador do Urbanismo. O responsável considera que esta “é uma forma interessante de fazer a transição entre a área industrial pesada e a área da Reserva Natural do Estuário do Sado”.
De acordo com a proposta, este é 'um momento chave para proceder à alteração do uso do solo, passando do domínio industrial para um tipo de utilização misto com serviços, lazer, habitação, entre outros, complementares e de apoio à grande zona industrial existente na Mitrena, e que não dispõe nas proximidades de qualquer zona de actividades deste género, criando-se assim uma nova centralidade no contexto concelhio'. [...]"
(Ler o resto aqui)


Os mesmo que permitem o derrube dos sobreiros lamentando a falta de local para a instalação de unidades geradoras de emprego, desanexam terrenos da zona industrial para a criação de habitação.
Como vão chamar o novo projecto, "Mira Lisnave"? Deve ser curtido ir para casa e levar nos pulmões com aquele cheiro ácido da SAPEC e, maravilha das maravilhas, com o aroma a "couves podres" da PORTUCEL".
Depois agitam com um estabelecimento de ensino superior para a zona... já lá temos um, chama-se Instituto Politécnico de Setúbal! E, sim, com um estuário imenso continua a faltar o Curso de Biologia Marítima!
Estes tipos da CDU enlouqueceram. Nem é preciso "anticomunistas", eles fazem o trabalho todo. Que venha o diabo e corra com eles à estalada!
A desgraça de Setúbal é que olhando para o lado os da oposição calçam o mesmo número.

João César das Neves no seu melhor

Anda o primeiro-ministro à procura de "soluções" e sai-se o João César das Neves com mais esta no Diário de Notícias:
"[...] A sensação generalizada na sociedade é que o ensino particular é uma coisa para ricos. Não admira, pois quem quiser escolher a escola dos filhos tem de pagar duas vezes, nas propinas a educação dos seus e nos impostos a educação dos outros. Isto até no ensino obrigatório, que a lei diz dever ser gratuito. Deste modo, o Estado recusa aos pobres a liberdade que a Constituição lhe confia.[...]"
(resto do artigo aqui)

A qualidade do ensino particular nomeadamente o universitário era tão grande que até tiveram de fechar portas... foi um óptimo investimento para quem se serviu a tempo e conseguiu ultrapassar as aborrecidas médias que as universidades públicas exigem.
De qualquer forma, se olharmos à quantidade de canudos provenientes das "privadas" que proliferam por aí, no governo, na administração pública, na gestão das empresas, também podemos adivinhar do seu elevado grau de empregabilidade. Da sua eficiência cá estamos nós para pagar.

Quanto ao argumento do César das Neves, que tal inverter a coisa: quer os filhos na privada, está-se borrifando para o ensino público e ainda quer os que frequentam o ensino público lhe paguem as propinas?
Só pode ser, quem assim escreve sobre o ensino não lecciona numa escola pública.

19.2.09

A propósito dos "Prós & Contras" sobre o casamento dos homossexuais

Cá para mim há uns tantos que não estão muito seguros da sua sexualidade, sentem-se ameaçados provavelmente. Para estes tentar impedir o casamento dos homossexuais será algo como um propenso à nicotina mudar de passeio só para não passar à frente da máquina do tabaco.
“O amor é louco não faças pouco”… que paranóia é esta de tentar impedir a felicidade dos outros quando esta não é obtida à custa da infelicidade de alguém?

PS: O que mete nojo no meio disto nem são os “trogloditas”, tampouco os argumentos de algumas pessoas da igreja. É o oportunismo eleitoralista.

13.2.09

A "Nova Setúbal" já arrancou

A "Nova Setúbal", um projecto imobiliário inventado no tempo da gestão PS do município setubalense, arrancou finalmente. E literalmente: 900 sobreiros, uma espécie protegida, ficaram a saber o que quer dizer "Projecto de Interesse Nacional", PIN.

Sendo que Setúbal é uma cidade onde há milhares de casas devolutas e por vender, o aparecimento deste projecto nada teve a ver com as necessidades habitacionais da região. Por esta razão houve quem questionasse
muito justamente o interesse de aumentar a oferta de habitação na cidade. De nada valeu.

No meio do bolo de betão, a cereja: a construção de um "estádio municipal" a ser utilizado pelo Vitória Futebol Clube, um clube local em sérias dificuldades financeiras para manter o actual estádio localizado no centro da cidade. O novo estádio de futebol será construído como contrapartida pelo município não reclamar determinados pagamentos de taxas que seriam obrigatórios numa construção deste calibre.

Tornado o "El Dorado" de muitos vitorianos que viam (vêem) o seu clube definhar, rapidamente a direcção do clube foi tomada por apoiantes e interessados no projecto imobiliário. O projecto foi vendido como a "tábua de salvação" para o clube e chegou-se ao cúmulo de ver indivíduos de cachecol clubista ameaçarem os ambientalistas que pugnavam a favor das árvores "protegidas".

Depois da contestação dos ambientalistas que obrigou o projecto a andar pela justiça, o empreendimento imobiliário foi finalmente catalogado como de "Interesse Público" pelo governo PS e teve luz verde.

Desta vez já não é um edil "rosa" quem governa a cidade. A mudança da cor política do município de Setúbal para a CDU, que votou contra o projecto quando estava na oposição, de nada serviu. A pitada "verde" que engalana a bandeira da coligação do PCP foi insuficiente para a sobrevivência dos sobreiros do Vale da Rosa, foram arrancados em tempo-recorde enquanto a "Quercus" procurava um novo recurso legal para os defender.

Que fique para a história: mais um crime ambiental, desta feita não apenas com a assinatura do "freeportiano" PS mas da "frente popular" que engloba PS, PSD e PCP.
O único partido setubalense que se opôs desde o início a mais este crime lesa-ambiente foi o Bloco de Esquerda. Fica aqui o comunicado de imprensa que alguém me fez chegar. Abro aspas:

A ganância especulativa e o terror anti-ambiental andam à solta na nossa cidade…


No dia 11 de Fevereiro foram abatidos 900 sobreiros no nosso concelho, abate que está ligado ao início da concretização do projecto da urbanização da "Nova Setúbal"

Desde 2001 que o BE se tem oposto a este projecto. Sempre considerámos que se tratava de um projecto megalómano e de legalidade duvidosa.

No fundo esta Nova Setúbal o que pretende é construir uma "nova" cidade que não será mais do que um gigantesco bairro suburbano.

A sua concretização terá consequências extremamente negativas para a cidade e é preciso que os habitantes de Setúbal se consciencializem que estão perante um projecto lesivo dos interesses da cidade em que habitam.

A realizar-se a Nova Setúbal, a cidade crescerá muito acima das suas possibilidades, transformando-se num enorme dormitório suburbano. Sem alma, sem raízes e sem identidade.

O projecto encobre um negócio obscuro em que são protagonistas os interesses imobiliários, os dirigentes políticos locais e os dirigentes do Vitória de Setúbal.

Este triângulo explosivo aparece encoberto por um manto de generosidade em que o grande beneficiado seria o clube da cidade.

No entanto, o Vitória de Setúbal será mais uma vez utilizado no pingue-pongue negocial entre a Câmara e a construção civil.

Este é, finalmente, um negócio de legalidade duvidosa. Pretende destruir uma área de montado superior a 10ha, aniquilando centenas ou mesmo milhares de sobreiros, numa expressa violação da lei de protecção destas árvores.

Estamos perante um negócio em que todos ganham com excepção da cidade.

A Nova Setúbal vai ser construída em terrenos que anteriormente eram considerados industriais e pouco valiam. Sem que se percebesse como, passaram a terrenos para construção urbana e assim sendo passaram a ter valores altíssimos.

A câmara e o governo socialista fizeram o resto.

Transformaram este espaço protegido, devido aos sobreiros que aí existiam, num espaço de empreendimento imobiliário, conseguindo que o mesmo fosse classificado como de "utilidade pública"

Infelizmente tínhamos razão nas preocupações que explicitámos em 2001. No momento actual ainda são mais claras as preocupações que expressámos.

A irracionalidade do projecto é evidente. Não faz sentido construir mais 7 500 casas quando há milhares de fogos devolutos em Setúbal.

O Vitória de Setúbal foi mais uma vez utilizado por alguns dirigentes políticos e desportivos locais sem qualquer benefício, agravando até a sua situação financeira.

Neste momento seria interessante saber quais as ligações do BPN com o agente imobiliário.

E cabe perguntar se algumas das falências que agora aparecem têm ligações com este projecto imobiliário.

Cabe ainda perguntar como é que num só dia se abatem 900 sobreiros. Que pressa é esta?

Finalmente seria importante perceber o silêncio do PCP dos "Verdes", do PS e do PSD.

Quando por todo o mundo se levantam as vozes contra os atentados ambientais e o planeta exige ser repensado e respeitado através de medidas ecológicas, em Setúbal num só dia abatem-se 900 sobreiros.

A ganância especulativa e o terror anti ambiental andam à solta na nossa cidade.

Setúbal 12 de Fevereiro de 2009

O Secretariado Concelhio de Setúbal do Bloco de Esquerda