10.9.15

O choque de Titanics ou as eleições segundo as televisões

Num contexto em que os patrões da Comunicação Social conseguiram divorciar as TV do debate democrático, alterando as regras do acompanhamento do debate eleitoral a e reduzindo o "serviço público" ao que pode potenciar espectáculo, tudo para não prejudicar a emissão dos produtos televisivos que preferem servir em horário nobre, lá tivemos o debate entre os "candidatos a primeiro-ministro".
"Candidatos a primeiro ministro"? Eu seria capaz de jurar que vamos ter eleições para a Assembleia da República, isto é, que se vai eleger deputados para a AR, e que nessa AR estarão lá outros partidos que, somados, podem condicionar o que lá se decide. Mas que interessa este pormenor, é melhor transformar a coisa num concurso de popularidade entre o mandante da situação e o "líder da oposição".
Para as TV tudo seria mais fácil se houvesse apenas dois partidos. Pois é, a Democracia é muito bonita mas é aborrecida, porque há que escolher, há que pensar, e fazer pensar é algo que contraria a lógica das televisões que olham para os seus espectadores como bestas consumistas.
As regras foram alteradas em nome do "critério jornalístico", leia-se publicitário. Assim, este "debate", feito à medida das três televisões, foi o único que teve canal aberto em horário nobre. Aos outros partidos não será permitido interromper a telenovela. Dentro desta perspectiva, foi publicitado até à náusea como se fosse o "encontro ao entardecer" que iria decidir tudo. Mas afinal, a montanha pariu um rato, não se ouviu nada que já não se tivesse ouvido.
A única novidade foi o modelo de gestão do "debate", mais cronológico que jornalístico. Como podia ser jornalístico com um triunvirato representativo das redacções dos telejornais fazendo perguntas pré-acordadas entre eles, como se um debate não tenha dinâmicas que podem e devem ser exploradas. Não tivemos jornalismo, antes três "robots" que, ao que leio agora, conseguiram até acabar uma pergunta cretina se alguém iria visitar alguém. É o "jornalismo" que temos.
Escrevi "ao que leio agora" porque não consegui aturar o modelo por muito tempo. O formato escolhido decepcionou quem tem idade para se lembrar de debates "a doer" na televisão conduzidos por jornalistas e não por cronometristas.
A possibilidade de mudar de canal e contribuir para diminuir o "share" de três TV ao mesmo tempo foi mesmo a única vantagem daquilo que passou ontem à noite.
Foi dos dias em que dei por bem empregue o dinheiro que dou pela TV por cabo, e lamentei mais uma vez o dinheiro que me é extorquido para pagar um "serviço público" que não existe.
[Este texto foi editado desde a sua "postagem": foi alterado o título]

9.9.15

O debate Catarina Martins/Paulo Portas na imprensa engajada

Caros comentadores, agora comento eu.
Dizer-se que se está com a posição de renegociação da dívida (coisa que hoje já nem é exclusivo do BE mas até de outras figuras da Direita) é esquivar-se, e afirmar que não se concorda com o memorando aceite por Tsipras e pela maioria do seu partido é fugir?
Fui só eu que vi que Paulo Portas pretendeu desde o início utilizar o papão da Grécia esmagada pela UE para fugir das questões que lhe foram feitas sobre a realidade portuguesa, concretamente sobre os "contratos de trabalho" inexistentes dos jovens e do corte já acordado com a UE nas pensões? Foi ilusão minha que o "papa debates" foi encurralado, apesar do ar e da linguagem de "estadista"? Logo o Paulo Portas, o tal do "Independente"!
Os senhores comentadores políticos fazem-me lembrar aqueles vossos "colegas", os desportivos, que analisam os jogos de futebol com preconceito clubístico. Umas vezes "o futebol é um jogo de contacto", noutras, quando convém, "houve um ligeiro toque", é grande penalidade. Cá em casa chamamos a isso comentar com a bandeirinha metida no... É isso que vi aqui e no "Sol", a bandeirinha do "PàF" metida no... comentário.
Esqueceu-se imperdoavelmente, as televisões insistem muito nisso, não vá a gente perder-se: "o BE passou de 16 para 8 deputados". Que admiração, quando as eleições foram feitas num contexto de chantagem emocional e quase toda a gente (ainda) acreditava que a crise era obra de "vivermos acima das nossas possibilidades". Somos todos banqueiros e jogadores da bolsa, né?
E também faltou o não desprezável "e não foi à Troika negociar". Como se não se soubesse, hoje, que não se negociou nada. Nem Paulo Portas ousou ir por aí, ele lá sabe por quê. Se quer saber, eu acho que o BE devia ter ido lá, sim senhor, mas para dizer aos "troikanos" que "o dinheiro que falta está todo nas contas dos que o roubaram e nos "offshores" que permitis". "Capice"?
Aproveitando o balanço, considero que aquele resultado de 16 deputados não coincidiu com a real influência politica desse partido, foi um voto de protesto conjuntural, um balão que rebentaria porque o passo seguinte seria participar no governo, mas isso só aconteceria com o PS, e para isso seria necessário "vender a alma ao diabo". Como entender que um discurso que fala do emprego com direitos se casasse com o programa de um partido que precarizou várias gerações de portugueses? (Ah pois, não foi só o PSD e o CDS). Mas não deixa de ser curioso como os comentadores que atacam a Esquerda por não se aproximar do PS nunca se lembram de acusar a falta de aproximação do PS à Esquerda. É "irresponsabilidade" o BE não abdicar dos seus princípios de Esquerda, que eu coloco entre o social-liberalismo do PS e os resquícios de Estalinismo do PCP, mas não é burrice teimar sempre na receita de ser a outra face da corrupção que nos governa como tem feito o PS?
Ao contrário do que os comentadores afirmam, as crises não são amigas da contestação de teor socialista e "radical" (ui!) mas do medo e da fuga para a intolerância, e até de soluções fascizantes. É preciso lembrar que Hitler subiu ao poder através eleições no meio de uma crise terrível? Em que sítio fizeram as vossas cadeiras de História Contemporânea, caros comentadores, na privada? A vitória do Syriza na Grécia foi uma excepção, já não havia mesmo nada onde votar, e o Syriza tinha a ilusão (que lhe foi fatal) de que chegaria à Europa e renegociaria a dívida. Tsipras estava longe de pensar que as Direitas europeias preferem governos fascistas, como o da Hungria, a um que tenha como referencial político os de baixo. A dívida e os interesses financeiros valem mais que a vida dos milhões de deserdados desta Europa.
E ainda o funeral. Esqueceu-se de fazer o funeral ao BE! Tantos funerais na comunicação social, Só que, qual Fénix que renasce das cinzas, reaparece outra vez, o chato. Às vezes a magana da realidade não coincide com os desejos dos comentadores arregimentados.
Concorde-se ou não com o BE, comentadores que não conseguem perceber por que há gente que não tem medo de ficar em minoria quando o resto canta em coro que "o Rei vai muito bem vestido", que nem sequer imaginam o que motiva pessoas a defenderem ideias antipáticas aos médias, aos megafones dos donos disto, deviam dedicar-se a comentar touradas. Quem gosta delas nunca vos criticará por estarem sempre do lado dos toureiros.
"O que faz falta", como diria o poeta, é comentadores que vivam um pouco da vida dos que sofrem as consequências das políticas que nojenta e parcialmente defendem nos jornais. Percebe-se, antigamente os jornalistas eram "marginais", viviam em bairros populares, conviviam de perto e conheciam o que a miséria faz. Hoje são muito classe-média alta, vedetas, ou candidatos a tal. Saltam dos Jornais para a Publicidade sem que o Código Deontológico lhes salte da carteira.
É isso que justifica o seu ódio social a cada luta laboral. "Peças" de entrevistas a perguntar a utentes do Metro o que acham da greve, utentes que nem sabiam que havia greve quanto mais por que era!, sem explicar o que levou os trabalhadores dessa empresa a perderem tanto salário é o quê? Jornalismo ou manipulação? E agora tão caladinhos que eles andam quando vendem o que é nosso por "tuta e meia"... E aquele olhar os pobres pela lente das senhoras da caridade: não como pessoas mas como uma oportunidade de darem nas vistas na "socialite", na melhor das hipóteses de fazerem as pazes com o Deus que adoram ao Domingo e negam o resto dos dias nas empresas que dirigem.
Não, caros comentadores, isto não é sobre o BE, podeis babar-vos sobre o seu cadáver adiado, ou consolidado tal o vedes nos vosso sonho húmido de cães de trela. O BE até pode ficar a zeros. Mas não duvideis, virá sempre outro "BE", outro espectro que vos tirará o sono a cada 0,1 por cento de sucesso eleitoral. Vós eu e sabemos não é do "BE" que tendes medo, é do que vai na cabeça daqueles que lá põem a cruz fora do lugar. É a avaliação do vosso trabalho que está em causa.