26.4.09

Um santo muito mal acompanhado.


Durante estes dias tem-se manifestado uma espécie de frente nacional de regozijo pela canonização de D. Nuno Álvares Pereira, pelas mais diversas razões: uns exaltam o papel do Condestável na independência de Portugal (os católicos espanhóis devem adorar terem o "árbitro" contra eles), outros pela forma como abdicou das riquezas e se tornou monge carmelita. Há ainda aqueles, "agnósticos", que apoiam por “patriotismo", tipo Cristiano Ronaldo ou Durão Barroso, topam? Valha-me Deus!


Admirar Álvares Pereira pelos feitos militares que contribuíram decisivamente para que hoje não sejamos mais uma "autonomia" vigiada pela polícia do Estado Espanhol, como o País Basco, a Catalunha e a Galiza é uma coisa, declará-lo "santo" por isso é algo exagerado.

Como nos dois lados de Aljubarrota se rezou ao mesmo Deus antes de se brandirem as espadas e o sangue jorrar, e partindo-se do princípio que Deus não quis tomar partido, o que terá decidiu a independência deste rectângulo entalado entre castelhanos e o oceano terá sido mais a coragem dos que se aventuraram a bater-se contra o inimigo cinco vezes mais numeroso do que a divina providência, concluo.

O exemplo de Aljubarrota... Ainda ontem uns tantos em Santa Comba Dão mostraram que ainda não conseguem endireitar a coluna, 35 anos depois do fim da ditadura!


Canonizar Álvares Pereira pelo seu despojamento em relação à opulência e celebrar o seu abraço da vida espartana de monge carmelita, será porventura uma razão justificável à luz da religião. Se atendermos ao ensinamento de Cristo de que “é mais fácil a um camelo passar por um buraco de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus”, poderíamos encontrar aí o motivo da canonização.


Todavia, trata-se de uma óptica diferente daquela que canonizou outros "santos" que fizeram exactamente o contrário do que é atribuído a Nuno Álvares, como o fundador da Opus Dei, Josemaria Escrivá. Não, não culpem os "insondáveis desígnios do Senhor" por isso.

Não deixa de ser curioso, porém, que os mais entusiastas desta decisão que veio satisfazer uma pretensão reivindicada desde os tempos do Salazarismo (as ditaduras gostam muito de construir estátuas em pedestais religiosos) sejam exactamente aqueles que mais venderam a “independência” de Portugal e que todos os dias nos pretendem fazer crer que as "agulhas" não têm buracos por onde passem os que não se sujeitarem aos ricos.

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