15.12.10

John Lennon, um dos nossos!

Faz hoje oito dias, em 8 de Dezembro,que passaram 30 anos sobre o assassinato de John Lennon que, se fosse vivo, teria feito 70 anos em 30 de Outubro.

Não é preciso lembrar o valor de John Lennon como artista, quase ninguém nega que se trata de um dos maiores músicos da história, quem duvidar tem os “Beatles”, um grupo que em poucos anos ganhou um lugar ímpar num século tão ilimitado musicalmente como foi o Século XX.

O que aqui se pretende enfatizar é o seu enorme valor político, distorcido e muitas vezes esquecido, que, ligado ao talento musical, fez de John a pessoa única que foi.

Lennon não foi um pacifista "hippie" e ingénuo como pretende o olhar oficial, era um revolucionário, internacionalista, mesmo marxista, que colaborou com diveros grupos da "esquerda radical" dos Estados Unidos, Irlanda e Inglaterra, além da sua mundialmente famosa militância contra a ocupação norte-americana do Vietname. Alguém que, como poucos, soube entrelaçar maravilhosamente a arte e a revolução.

Embora nos seus primeiros anos com os “Beatles” a sua fórmula musical não tivesse a pretensão de qualquer conteúdo político, e fosse mais o penteado que as letras da banda que incomodavam a Situação, e até tenha recebido uma condecoração da Coroa Britânica (que acabou por devolver em 1969 em protesto pelo envolvimento britânico no Conflito Nigéria-Biafra e no Vietname), o próprio John Lennon acabou com a trivialidade da sua imagem gerando a sua primeira polémica quando, em 1966, declarou provocatoriamente que os “Beatles” eram mais populares que Jesus Cristo – uma afirmação da qual viria a pedir desculpas.

Após o rompimento com os Beatles, e a sua união com a artista vanguardista japonesa Yoko Ono, John Lennon perdeu o temor de expressar por completo as suas inquietações existenciais e políticas. Daí em diante a arte foi a arma que utilizou contra todas as opressões, experimentou falar directamente sobre política nas suas músicas, como em "Revolution" (Revolução), uma canção controversa por causa da crítica ao maoísmo, muito em moda na época, e tida por “reaccionária” por algumas perspectivas de Esquerda.

Lennon foi simpatizante de uma organização trotskista britânica liderada por Tariq Ali. Na foto, com Yoko, numa manifestação a favor do IRA contra o imperialismo britânico na Irlanda. Exibe o “Red Mole” (Toupeira Vermelha), um jornal da Secção Britânica da Quarta Internacional publicado nos anos 60/70.


O activismo de Lennon contra a Guerra do Vietname entrou para a história com acontecimentos épico-publicitários como a famosa lua-de-mel (1969) com Yoko Ono, convertida em “bed-in”: aproveitando o apetite pela escandaleira por parte da imprensa, o casal passou uma semana inteira na cama de um quarto de hotel para onde haviam convidado a imprensa mundial entre as 9 e as 21 horas da noite… após o lançamento do álbum “Two Virgins”, em cuja capa Yoko e Lennon aparecem nus, a imprensa esperava assistir a uma cena de sexo em público, debalde, acabaram uma semana inteira a ouvir discursos sobre a Paz e contra a Guerra.

É destes tempos o "Give Peace a Chance "(Dêem Uma Oportunidade à Paz), que se tornou o hino do movimento anti-guerra, e a intervenção artística consecutiva em espaços públicos nas ruas de Nova Iorque, Tóquio, Roma, Atenas e Londres, com uma única frase: "A Guerra Acabou (se quiseres)". Mas este anti-belicismo, e anti-imperialismo com o qual também enfrentou a ocupação britânica da Irlanda com canções como "Sunday, Bloody Sunday" (Domingo Sangrento) e "The Luck of The irish” (A Sorte dos Irlandeses) é apenas uma das suas facetas, também o seu feminismo é retratado em "Woman Nigger Of The World” (A Mulher é o Preto do Mundo), onde Lennon faz uma denúncia implacável da sociedade patriarcal em que vivemos.

Mas não só: o seu espírito revolucionário irrompe em "Power To The People” (Poder ao Povo) e sua identificação com a classe trabalhadora, que declarou em diversas entrevistas, pode ser escutada no lindíssimo e tocante “Working Class Hero" (Herói da Classe Operária).

Lennon e Yoko Ono, em frente à famosa pintura da Bandeira dos EUA
com caveiras em vez de
estrelas a representarem os Estados da União.


Lennon tornou-se um amigo próximo de militantes radicais, como Yippies Jerry Rubin e Abbie Hoffman, e do líder do Panteras Negras, Bobby Seale. Graças à sua participação num festival pela libertação de John Sinclair (membro dos “Panteras Brancas”) em 1972, o activista haveria de ser libertado três dias depois. Contribuiu ainda financeiramente para muitas organizações e campanhas nos EUA, Inglaterra e Irlanda, sendo assinante do “Red Mole” (Toupeira Vermelha, um jornal trotskista britânico) e outros periódicos de Esquerda. Pelo caminho ainda doou um milhão de dólares ao cineasta chileno Alejandro Jodorowsky pelo valor antimilitarista do filme "El Topo" (A Toupeira). Com todas estas qualidades e acções, Lennon ganhou a atenção e perseguição do FBI e da CIA, que tentaram deportá-lo durante anos.

Mais tarde, os seus perseguidores conseguiriam a vitória mais óbvia e mais directa: Em 1980 John Lennon foi morto por cinco tiros disparados por um certo Mark Chapman, que terá assassinado o artista devido à sua loucura.

Há, todavia, quem questione como é que o assassino terá passado milagrosamente pelos serviços aduaneiros dos EUA sem que ninguém tivesse detectado a sua arma, e também quem acuse que o tresloucado autor dos disparos estaria cheio de psicofármacos utilizados pela CIA.

Para concluir, o valor da sua música imortal "Imagine".

Se procuramos por debaixo da etiqueta de uma mera canção pacifista, "utópica", om que a pretendem cobrir de forma prudente, descobriremos na sua letra um autêntico manifesto revolucionário e socialista resumido num punhado de simples, belas e geniais frases: a primeira estrofe rompe com a religião e idealismo, a segunda mostra o absurdo de dividir a humanidade em países, a terceira ataca directamente a Propriedade como a razão particular para a fome e a inveja pregando a fraternidade entre os homens.

Este “resgate” do John Lennon revolucionário não pretende ser uma reivindicação política, tal seria um acto sectário e estúpido, já Marx dizia que “o Génio Humano não tem Classe Social”… Ressalvado isto, perdoem que o autor destas linhas não esconda o seu orgulho de pertencer à mesma Classe que produziu John Lennon e que possa acabar este texto assim: Um dos nossos!


Este texto não foi colocado no dia porque o autor quase nem se apercebeu da efeméride devido ao silêncio dos media. E uma referência deontológica importante: o que acabou de ler foi baseado na homenagem assinada por Ernesto Alaimo no jornal argentino "Socialismo o Barbarie", donde provêm também as imagens. Foram utilizadas algumas informações disponíveis na Wikipédia e introduzidos vários apontamentos pessoais. Por esta razão, e por respeito ao autor aqui referido, informa-se que este texto não pretende ser uma tradução.


Vídeo de "Working Class Hero"

(origem: YouTube)




"Working Class Hero"

[John Lennon]

As soon as your born they make you feel small
By giving you no time instead of it all
Till the pain is so big you feel nothing at all
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

They hurt you at home and they hit you at school
They hate if you're clever and they despise a fool
Till you're so fucking crazy you can't follow their rules
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

When they've tortured and scared you for twenty odd years
Then they expect you to pick a career
When you can't really function you're so full of fear
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

Keep you doped with religion and sex and TV,
And you think you're so clever and you're classless and free,
But you're still fucking peasants as far as I can see,
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

There's room at the top they are telling you still
But first you must learn how to smile as you kill
If you want to be like all the folks on the hill
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

If you want to be a hero, well just follow me
If you want to be a hero, well just follow me



Tentativa de tradução em português
(aceitam-se propostas de melhoria)

Herói da Classe Trabalhadora

Assim que nasces fazem-te sentir pequeno
Não te dando tempo nenhum ao invés de todo
Até que a dor é tão grande que já não sentes nada
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser

Eles magoam-te em casa e batem-te na escola
Eles odeiam-te se és esperto e desprezam um tolo
Até que estejas tão fodido do juízo
que não consigas seguir as suas regras
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser

Após torturarem e assustarem-te
durante vinte estranhos anos
Então esperam que escolhas uma carreira
Quando já não consegues racionar encheste de medo
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser

Mantêm-te alienado com religião sexo e TV
E achaste-te muito esperto sem Classe e livre
Mas continuais uns plebeus fodidos
tanto quanto posso ver
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser

Há um lugar ao sol, dizem-to repetidamente
Mas primeiro precisas de aprender a sorrir
enquanto matas
Se quiseres ser como a gente do topo
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser

Se quiseres ser um herói então basta seguires-me
Se quiseres ser um herói então basta seguires-me

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