5.5.09

Obrigado "Homem dos Desenhos Animados".


Vasco Granja
. Soube da sua partida quando andava a vadiar por aqui.

O "homem dos desenhos animados" preencheu-me muitas tardes de miúdo à frente da RTP. Foi da sua voz simpática e inesquecível que ouvi as primeiras traduções da linguagem dos desenhos em movimento, mostrou-me que por detrás das trapalhadas que me faziam rir havia trabalho sério, dedicação, muito amor. Queria (e no meu caso, conseguiu) transmitir o afecto por aquela estranha forma de arte concebida por adultos que recusam dar por concluída a sua infância.
Falava dos bonecos com paixão e fez-me ver muitos e de todas as paragens, porque os bonecos não são todos iguais, apenas a paixão que os faz mexer tem a mesma origem, no melhor que os Homens conseguem fazer aos outros Homens: fazer rir.
Aos miúdos que o ouvíamos à espera do insurrecto Bugs Bunny e do neurótico Daffy Duck tentou fazer germinar o sentido crítico, sem doutrinar. Lembro-me sobretudo daquele seu jeito de apresentar que traduzia um enorme respeito pelas crianças: os seus programas não eram para fabricar consumidores hipnotizados por imagens feitas a metro.

Muitos desenhos animados depois, via-o passar quase diariamente do muro onde me sentava para apanhar o ar de depois do almoço na cantina da fábrica, na Amadora. Recordo que a jornada que faltava cumprir se tornava mais leve, porque me lembrava que eu ainda era um puto. E enquanto se é puto há esperança. Mal dos que deixam de o ser.

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