22.5.09

Mais um ciclista que morre vítima da tirania do automóvel

“O Setubalense” dá conta esta sexta-feira da morte de mais um ciclista nas estradas de Setúbal. Segundo a notícia, o condutor terá fugido e não foi identificado.
Não é sobre o pormenor criminoso de fugir deixando uma pessoa agonizante no asfalto que me vou debruçar, porque os assassínios são casos de polícia.

Pelo que me tenho apercebido, se a ultrapassagem “à tangente” tem atirado muito ciclistas para a valeta e para o hospital ou mesmo para a morgue, o caso-tipo do acidente que mais vitimas faz entre os ciclistas é o da que não sinalização da sua presença aos veículos que vêm atrás por parte do ultrapassante automóvel.
Se é de Ignorância e Estupidez que me lembro quando vejo as ultrapassagens rés-vés que se fazem aos velocípedes (a esta gente nem lhes passa pela cabeça o que a deslocação do ar faz a um veículo tão leve como uma bicicleta!), o outro caso, o hábito luso da não utilização do o "pisca-pisca" para indicar ao condutor que vem atrás a presença de alguém ou alguma coisa na via, devia ser considerada uma manobra tão perigosa que o seu autor fosse proibido de passear a chapa na via pública.

A falta de sinalização dos "obstáculos" na via é ainda uma prática que também tem vitimado muitos peões que se deslocavam à beira das estradas. E não será alheia à morte de muitas pessoas que se deslocavam em peregrinação religiosas.

Esta característica da "guerra civil" que ocorre nos nossos asfaltos é tão vulgar que dou comigo a pensar com os meus botões que muita gente deve estar convencida que aquelas luzes que acendem e apagam, e aquela manete que as activa, são instaladas nos automóveis apenas para lhes aumentar o preço.



É ainda com o (des)equilíbrio entre os carros e as pessoas que continuo. Há mais um artigo no trissemanário sadino que tem a ver com "rodas", desta feita sobre a preocupação com o estacionamento no centro da cidade de Setúbal por parte dos partidos representados na vereação da câmara.

Depois das obras do Polis de que resultaram três faixas de rodagem na Avenida Luísa Todi, a Câmara Municipal de Setúbal (PCP) acabou por reservar numa parte da avenida uma das vias para estacionamento, a pedido dos comerciantes dizem, e "só enquanto não há dinheiro para o silo" à beira-mar - mais carros no centro, portanto. Por seu turno, a oposição (PSD e PS) cavalga a impopular “falta de estacionamento”.

Nem por um momento passou pela cabeça dos partidos do governo e da oposição que Acessibilidade ao centro não é sinónimo de parques de estacionamento. É de “pescada de rabo na boca” que falam, porque quantos mais parques de estacionamento fizerem mais lugares serão precisos, por uma simples razão: a expectativa de estacionar junto ao lugar de destino fará introduzir na cidade ainda mais automóveis. Transportes Públicos decentes e de preço convidativo em Setúbal ... O qu'é qu'é isso?

Com mais ou menos lugares de estacionamento, o Automóvel mantém a sua ditadura sobre a qualidade de vida e a mobilidade no centro de uma cidade que não foi construída para o tráfego que actualmente percorre as suas ruas. Setúbal, um caos em horas de ponta e horas redondas.

Apoiada pela saloiice política que governa a câmara e os que lhes invejam o lugar, a escalada da apropriação do centro da cidade pelos automóveis continuará a ser acarinhada. Basta dar uma vista de olhos pelos passeios de Setúbal, ocupados pelo estacionamento selvagem, para constatar que peões, deficientes motores e carros de bebés não constam das preocupações governativas e oposicionistas municipais.

E também da PSP. Enquanto a polícia vai perseguindo a sua quota obrigatória de multas através dos incautos que passam a mais de 50 quilómetros por hora na única via de Setúbal com duas faixas separadas, onde há passagens desnivelas de peões e não há cruzamentos, a variante Nacional 10/Estrada dos Ciprestes, vai-se morrendo atropelado noutros locais da cidade por excesso de velocidade e desrespeito de passeios e passadeiras de peões.

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