14.10.09

Texto de um comentário a um post do "Arrastão".
Foi escrito sem o "aquecimento" devido, mas deixo-o aqui porque inclui algumas coisas que penso das eleições e do Bloco de Esquerda.


Olhar para o resultado das eleições autárquicas centrando-se em Lisboa e no Porto é mau começo.
Comecemos por acabar com a soberba de confundir eleições e eleitorados e sobretudo de esquecer que as eleições locais se baseiam em grande medida no conhecimento que as pessoas têm do trabalho do entretanto. Tenhamos a modéstia de perceber que o BE ainda tem muito casqueiro para comer neste capítulo…
Além disso, azar, as pessoas votam e “desvotam” de acordo com apelos que, felizmente, os partidos não controlam – sim, há apelos que influenciam os eleitores e não são por estes controlados, mas esse é outro debate. Aliás, o sucesso do BE é em grande parte resultado dessa “desobediência”.
A construção do bloco não se fará à conta da bênção dos oráculos da comunicação social ou da cedência à moda mediática, mas de uma agenda própria e do “capital” mais importante que um político pode acumular: respeitabilidade e coerência na intervenção perante os problemas mais “pequenos” e mais próximos – os tais que enchem barriga aos “Nós por Cá” e quejandos e alimentam a caricatura que o povo faz de si próprio: tens problemas, não te mobilizes e aos teus vizinhos, telefona para a tevê.

O que se passou em Lisboa com Sá Fernandes foi um mau sinal. Penso, ao contrário do Daniel, por se ter avançado com ele. Em relação ao retirar de confiança, que mais havia a fazer quando o “nosso” vereador aparece a defender os interesses contra os quais foi eleito?
Sim, nas eleições lisboetas o Bloco teve de recomeçar quase do zero. Não veio mal nenhum ao mundo por isso, apesar do episódio Sá Fernandes ter sido utilizado com o exemplo da “falta de capacidade do Bloco assumir poder”, blá, blá, blá…
O que daria um péssimo sinal seria o ter-se insistido na tecla, “engolir o sapo” e ir em frente pela “unidade da Esquerda”, com esta esquerda que costuma abrir as comportas para a maré-cheia da Direita. É preferível fazer a travessia do deserto que ser camelo.

Os princípios custam votos e popularidade mediática, deixa-se de ser “engraçadinho” quando se é intransigente nessa matéria, perde-se “cosmopolitismo”, é-se “ortodoxo” e outros lugares-comuns que os comentadores encartados gostam de atirar dos ecrãs das tevês. Mas não é para estes que fazemos política, é para os que involuntariamente ou não lhes pagam o tempo de antena.

Não há atalhos, mediáticos ou quaisquer outros que substituam a organização, a aprendizagem e a inserção dos activistas na luta quotidiana das pessoas.
Nada substituirá a continuidade do trabalho desinteressado e voluntário da muita gente que se juntou à volta do Bloco. Por um partido que não tem empregos para oferecer, apenas trabalho e “dar a cara” por ideias. Não há outra forma de “competir”.

Fui candidato, não-inscrito no bloco, por Setúbal.
A sorte dos votos não lhes sorriu de acordo com as expectativas, mas ganharam o meu respeito e, que temam, o meu desejo de os acompanhar. Dois deputados municipais e mais uns tantos nas freguesias, já vi piores desertos.
“Solidarité Mes Frères!”

Cumps.

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