Texto de um comentário no blog "5 Dias" a propósito da candidatura presidencial de Francisco Lopes do PCP:
“Faria sentido lançar Carvalho da Silva na corrida sem a desistência de Manuel Alegre em seu favor?” Faria, não como candidato do Comité Central mas como uma emanação da resistência à ofensiva anti-social. Se o PCP fez o costume, já que a sua concepção de unidade não ultrapassa a “frente popular” muito limitada dos “Verdes” e dos “democratas” da CDU, ao Bloco de Esquerda faltou a coragem para desafiar o PCP a fazer o contrário. No caso do apoio do Bloco a Alegre, tratou-se de uma escolha política que só os mais distraídos não previram, uma vez que o projecto de construção do BE passa pela “ofensiva” sobre as bases socialistas e sociais-democratas… E pela ignorância ostensiva do PCP. A este propósito, leia-se a imprensa do BE. Nem um esboçar de reflexão sobre a forma como o PCP “gere” a sua influência nos sindicatos, é o seguidismo completo em relação à burocracia.
Se Alegre se candidataria à mesma? Suponho que sim. E daí?
Em resumo, teremos um candidato de partido a falar para a audiência do partido (Francisco Lopes) e um candidato (Manuel Alegre) apoiado por dois partidos e duas razões diferentes e diametralmente opostas. Por um lado a perspectiva pragmática de arregimentar forças para defender o que ainda não foi destruído de um Estado Social nado-morto (BE). Por outro, a lógica da toalha atirada ao chão, “tanto faz”, “Cavaco já ganhou”(PS)… além de que, sugiro eu, não sobra ninguém credível para dar a cara por uma política governamental desastrosa . A indiferença em relação ao resultado eleitoral, é o que explica que um candidato que se apresenta em defesa da Educação e do Ensino Públicos seja apoiado pelo partido que mais atacou esses fundamentos nos últimos anos. Na excepção, torpeadeado pelos seus camaradas (Mário Soares) que pressentem uma reconfiguração do eleitorado socialista caso o candidato Alegre tenha uma votação razoável.
Ainda no caso de Alegre, convenhamos: não foi propriamente um modelo de resistência activa à governação do PS, como pretende o Bloco, mas ignorar a contradição que o candidato representou em algumas matérias nucleares que foram debatidas nos últimos tempos, como faz o PCP, é uma visão demasiado estreita de um partido que, tal como eu, já votou em candidatos sem lhes perguntar o que pensam da NATO e da perspectiva de uma Revolução Socialista em Portugal. Aqui a pergunta ao PCP é simples: alguém acredita seriamente que votar em Alegre é votar em Sócrates? Só a miopia e o sectarismo podem fazer chegar a essa conclusão.
De qualquer forma: admito que votar num candidato porque se é contra outro é bem menos agradável do que depositar o papelinho por quem se confia. Aí o PCP aí está em vantagem em relação ao BE.
Por mim, exponho-me parafraseando aquela senhora do “Mickey Mouse”: contra Cavaco Silva até votaria no “Daffy Duck”.
(Bem… votar no “Daffy Duck” nunca seria um mal menor)
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