18.4.07

V Convenção do Bloco de Esquerda - I

Inicio aqui alguns artigos de reflexão pessoal sobre a próxima convenção do partido que tem merecido o meu voto. O que aqui vou opinar não reflete as posições dos restantes elementos deste blogue.

Moção A: «A esquerda socialista como alternativa ao governo Sócrates»

A moção da maioria da direcção consagra o triunfo dos sociais-democratas sobre os "marxistas" do bloco. Explico.

Não me refiro à caracterização da situação do Império e das suas contradições guerreiras e económicas, muito menos da descoberta do "filão" ecológico.

Como se o marxismo, com Engels incluído, nunca se tivesse preocupado com isso!

Há, isso sim, "marxistas" que não se preocupam com temas "menores" que não tenham "classe operária" no início da frase, o que é bem diferente. O passivo ambiental deixado pelas antigas repúblicas “socialistas” fala por si.

Do lado ocidental do muro o "crescimento económico" também deixou marcas profundas, nos próprios países e nos outros, subdesenvolvidos, que alimentaram de matérias-primas a expansão económica que permitiu o Modelo Social Europeu.

Desde os finais dos anos 60 do século passado que há movimentos que criticam os modelos de crescimento baseados na pretensão de que os recursos do planeta são inesgotáveis. A crise do petróleo de 1973 veio alertar para a dependência energética dos depósitos de combustível dos automóveis, mas foram precisos mais de trinta anos para que os “media” se interessassem e, consequentemente, parte substancial da opinião pública, pelo que sai dos escapes. Só agora, quando estamos prestes a atingir o ponto de não-retorno.

Pelo caminho, a moda nalguns casos oportunista dos Partidos Verdes - que acabaram na sua maioria por demonstrar que o Poder não corrompe apenas o vermelho. Afinal, o Ambiente não é apenas um problema de mais ou menos “fumo”, é sobretudo um problema político.

É correcta a agitação e a luta por Reformas imediatas no campo do Ambiente, é mesmo urgente - sim, "reformas" qual é o problema político?

A degradação ambiental acelerada do planeta, que a lógica capitalista tem provocado, não põe em causa apenas a possibilidade futura da gestão dos recursos de uma forma socialista, está a colocar em causa a própria sobrevivência da Humanidade. Este combate, da Vida contra o Lucro, tem de se travar agora.

O contexto de agressividade desmesurada do Capital e o refluxo político da Classe Trabalhadora, pelo menos na Europa e na América do Norte, obrigam a plataformas de entendimento com associações e interesses que não sendo “revolucionários” nem “socialistas” poderão garantir pelo menos o oxigénio suficiente para se poderem pensar as estratégias revolucionárias do futuro.

Para os socialistas não há causas menores. Fazer agora a “viragem para o ambiente” soa a autocrítica política. É justo e fica bem fazê-la. O drama é que poucos vão à nossa frente.

É na ausência de um discurso político dirigido aos trabalhadores que encontro as principais divergências com a moção proposta pela maioria da direcção.

O discurso da moção passa por cima de qualquer reflexão minimamente sólida sobre as possibilidades de luta dos trabalhadores, fala do "precariado", os mais proletários do proletariado, mas escusa-se a qualquer tese e ao mínimo balanço sobre as organizações que se movimentam no meio laboral.

Não há uma ideia que possa provocar o debate na fundação-base de um partido que se diz socialista: a Classe Trabalhadora. O BE parece que não se pretende vocacionado para discutir ideias que possam armar os seus militantes no meio da desorientação da ofensiva liberal e do sindicalismo burocrático de todas as matizes. Não tem opinião sobre os sindicatos e sobre as burocracias. Cada um por si, parece ser a política que se propõe para o BE sindical.

Este vazio não é a meu ver uma opção estética ou comunicacional, o produto de uma escolha de linguagem para não ferir os traumatizados por outras andanças políticas, ou sequer uma redução de adjectivos para evitar a acusação do “lá estão eles, os esquerdistas do BE”, pior, na minha interpretação é o triunfo de uma certa forma de ver o Movimento Operário: como um movimento igual aos outros que procuram evidenciar-se na sociedade.

Considerando a origem das principais correntes políticas do bloco, trata-se de uma mudança de Paradigma.

A Classe Trabalhadora já não é o "caterpilar" cujo motor desgastado pela luta secular de produtores contra proprietários deve ser aditivado com todas as outras discriminações e revoltas, lubrificado pela democracia e pelas "novas" reivindicações e descobertas científicas.

Não é uma questão com pouca importância. E não é semântica, é política: o bloco quer ser apenas "esquerda nova", não quer ser o "novo partido dos trabalhadores". Afinal a luta dos assalariados é apenas mais um "problema social".

E logo agora, quando a Classe Trabalhadora ocidental no seu conjunto vem adquirindo cada vez mais conhecimento técnico… o que faz perceber melhor a heroicidade perante a possibilidade de vitória dos seus avós!

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