26.8.06

PCP afastou Carlos de Sousa e não se explicou aos eleitores.

A possível perda de mandato por irregularidades na gestão municipal, nomeadamente na forma como alguns funcionários alcançaram a reforma, virou as atenções para um dos autarcas-modelo do PCP, Carlos de Sousa.

O assunto acabou secundarizado pela demissão “compulsiva” do presidente do município de Setúbal, pelo seu próprio partido. Pelo caminho, uma cobertura mediática superior àquela que o PCP quereria, mas insuficiente para deixar os eleitores setubalenses esclarecidos. E ficou por se saber onde estava o fogo que gerou tanto fumo.

Foi a modos que o rebentar de algumas bolhas na superfície do pântano. Afinal talvez houvesse vida debaixo dos limos, houve quem pensasse. Mas o zum-zum dos mosquitos do costume embalou tudo até ao sono normalizador.

Rapidamente deixou de ter importância a notícia que dava o então presidente do município de Setúbal como presumível autor de "ilegalidades" na gestão municipal. A fuga de informação - mais uma - deixou de ter importância. Beneficiário de tanta "solidariedade", que comove ver escorrer por aí, ninguém pareceu importar-se com a afirmação de Carlos de Sousa no dia em que apresentou a demissão: não chegara à Câmara Municipal de Setúbal nenhum documento igual ao que o culpabilizou nas mesas das redacções.

Poucos questionaram mais esta demonstração da Fuga de Informação como arma de combate político. Ninguém estremeceu perante um jornalismo que já nem questiona a origem das fontes e se deixa co-incinerar na fogueira dos interesses.

A discussão não é esta. O que se anda a debater por é se o PCP tem legitimidade para substituir “quem o povo elegeu”:
- Fala-se de “perseguição política” por parte do PCP ao seu “autarca modelo”, mas ninguém consegue apontar ao afastado uma centelha de rebeldia que justifique a perseguição;
- Atira-se com o “renovador” para a frente, sem que se vislumbre no epíteto uma correspondência política que ilumine a escuridão do debate político intestino do partido a que Carlos Sousa sempre pertenceu e serviu.

E sobretudo, esquece-se o que há: a “Nova Setúbal”, a trapalhada do “Polis”, a privatização da recolha dos lixos, o embuste de Tróia, a empresa da Feira de Sant'Iago, os avençados a metro...

Assim:
Ou Carlos Sousa foi corrido porque estava a resistir a esta vaga de “modernização” ao serviço dos especuladores de Setúbal, que o PCP apoiaria;
Ou estas “realizações” não faziam parte do programa do PCP quando este concorreu para o município e o partido está a defender-se.

No mínimo serão capazes de supor que terão ocorrido contradições azedas (não vou chamar-lhes debates porque o grosso dos militantes ficou à margem da situação e está confundido) no interior da organização a questionar as opções de crescimento. E que só a crise organizativa, a burocracia e o carneirismo da organização local do partido deixaram que a situação chegasse a um ponto tal que a direcção central tivesse de se impor sob pena de vir a ser apontada ao lado dos melhores traficantes de influências da Cidade de Setúbal.

Mesmo neste último caso, aquele em que supostamente o programa estava a ser “atraiçoado”, não reconhecem ao partido o direito de intervir? Eu reconheço, mesmo sem saber se foi em defesa do programa que o partido interveio.

Não são as pessoas que devem ser responsabilizadas pela governação mas os partidos que as escolhem - partidos com caras, bem entendido. Mas não se deixem arrastar para essa moda do personalismo político tão ao gosto de uma certa comunicação social que pretende dissolver dessa forma o velho desafio do marinheiro ao Adamastor de que quem ia ao leme não era só ele.

A comunicação social faz isso porque é essa a sua agenda des-socialização das opiniões (uns, os outros nem sabem o que isso é , fazem-no por mimetismo)

O que está em questão não é o direito do PCP fazer a substituição do presidente da câmara. A lei permite-o e a permissão não me ofende. O que está em causa é fazê-lo sem explicar aos munícipes o Porquê!

O que irrita é tratarem os eleitores, até os próprios militantes, como estúpidos, como se fossem as abéculas burocráticas e abana-cabeças dos sindicatos-partido!

De qualquer forma, as pessoas não deixarão de perguntar por que é que esteve tudo bem até agora e de repente o candidato mais jovial do PCP, o motard, o visitante assíduo do Fórum de Porto Alegre, necessita de ser rejuvenescido por uma presidente cujo nível cultural (a julgar pelas amostras) é capaz de provocar pesadelos ao Rúben de Carvalho.

Por fim:
Na mesma discussão que referi atrás debate-se se o partido per si vale mais votos que Carlos Sousa, ou o contrário... Poupem-me!

A ver a realidade política pelas lentes dos comentadores da SIC e do Expresso ainda acabam desesperados à espera da homilia dominical do Marcelo para terem assunto de debate político.

E olhem que aquela de ter os “bitaites” do José Manuel Fernandes do “Público” como referência para introduzir a discussão sobre o futuro próximo do próprio partido não é bom sinal.

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