7.2.12

Resistência ou "Lockout" cultural?

A atitude de  Vasco Graça Moura de impor aos funcionários do Centro Cultural de Belém que fosse retirado dos computadores o corrector ortográfico com o novo Acordo Ortográfico continua a ser celebrada em alguns fóruns da rede como um "acto de resistência" por opositores ao controverso acordo. Erradamente, não há "resistência" nenhuma quando se impõe aos subordinados as suas próprias convicções. É como a "greve dos camionistas" (assim denominada na imprensa) que não era nenhuma greve mas uma paralisação patronal imposta aos motoristas das viaturas para combater o governo. Um lockout. No caso de Graça Moura, um lockout cultural.

Acordo ortográfico? "Pára" aí!
Não é por questões de "patriotismo"... patriotismo? se querem fazer algo em matéria de "patriotismo" sigam o exemplo dos brasileiros: insurjam-se contra as palavras estrangeiras na publicidade, e por aí adiante, sempre que há termos em português. Exijam que a comunicação social proteja a língua, para que a "norma" escrita se expanda ao contrário dos anglicismos idiotas com que nos prendam diariamente.
Resiliência ao "brasileirismo"? Só se for para rir, no Brasil  há muitos que o criticam e com argumentos menos estúpidos do que o "patriotismo". Não culpem os brasileiros, deixem-nos em paz. Os que melhor escrevem em português fazem-no em português do Brasil, com o "trema"... e o gerúndio que alguns imbecis acham "brasileiro" porque só conhecem o Alentejo das anedotas...
Não gosto do acordo ortográfico em nome da diversidade - uma espécie de amor à biodiversidade mas com letras. Não vejo nele a distinção saudável da pronúncias portuguesa e brasileira: onde eu lia o cru "diréção" europeu, leio agora "dirêção" porque se avacalhou a sílaba tónica... e já nem me permitem adivinhar em "direção" a pronúncia da  "dirêção" brasileira. O Acordo Ortográfico é um híbrido de plástico sem alma. Uma uniformização que só serve os editores.

Além disso, e sem me meter nos pormenores técnicos (ui!), não gosto do acordo porque muitas das soluções que propõe são estapafúrdias e "esteticamente" caricatas, como o "para" que pode ser "pára" e "depende do contexto"... como os "espetadores" que acho que só deviam existir nas touradas - cujos "espetadores" espero que tenham cada vez menos espectadores.
Por outro lado, pressinto que no futuro os nossos estudantes perceberão pior qual a razão por que os ingleses e franceses mantêm o "c" em "direction", que suspeito que seja a mesma pela qual os castelhano-escritores o fazem em "dirección".
Perante a evidência (do que é evidente - não a tradução errada do equivalente inglês para "prova" como se vem lendo cada vez mais nas legendas e se ouve nos telejornais) só posso chegar à conclusão de que as academias das três línguas mais faladas pela Humanidade são umas atrasadas ao pé dos iluminados que pariram o acordo.
Regressando ao ídolo "resistente" do momento. Vasco Graça Moura impôs (sublinho: impôs) aos seus subordinados que não fosse cumprido o acordo. Não gostei porque também não gostaria que o meu patrão me impusesse o contrário. Além disso, estas coisas da resistência só têm pinta quando um gajo arrisca alguma coisa. O que não foi o caso.

PS: Todos os erros ortográficos e pontapés na gramática dados neste texto só revelam que ainda havia muito a fazer quanto à grafia antiga... Quanto à "ignorância técnica"... que querem, sou daqueles que antes de conduzir um carro gosta de espreitar por baixo do capot - em francês e em itálico, bonito não é?

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