21.12.12

A Água é um Bem Essencial, não uma Mercadoria

(Artigo de Opinião publicado no jornal “O Setubalense”)
A Água é um Bem Essencial, não uma Mercadoria
Não foi há muitos anos que a captação e distribuição de água no nosso concelho era feita por serviços geridos pela Câmara Municipal, sob a responsabilidade de um vereador com esse pelouro, representando um governo local legitimado pelo voto popular nas eleições autárquicas. Isto é, havia sempre a possibilidade dos cidadãos interferirem na forma como um Bem Essencial tão importante como a Água era gerido, através da Democracia: “Se não és competente dá o lugar a outro”.
Entretanto, a governação do PS que geriu este município durante 16 anos, decidiu disfarçar a sua incompetência privatizando a água. Incompetência, sim, porque só um incompetente entrega ao negócio a responsabilidade de gerir um Bem Público que lhe foi confiado pelo povo. Não? Então, ainda é mais grave: por mero interesse partidário vendeu-se um Bem Essencial que pertencia à Cidade só para fazer obras de fim de mandato. Saiu-se mal o PS, foi julgado e perdeu as eleições. Mas nós perdemos ainda mais: a oportunidade de julgar quem e como se governa a Água que abastece o concelho.
Agora, quando os fantasmas das misérias do passado voltam a assombrar os lares, quando a pobreza ultrapassa a vergonha e já invade as ruas de Setúbal, quando há cada vez mais gente que já não tem dinheiro para fazer face aos custos da luz e da água, o município está incapaz de minorar o sofrimento desses cidadãos porque não tem o domínio deste bem essencial. Mas isso não serve de desculpa para não se tomar posição quando os direitos dos consumidores são violentados.
A Água, de Recurso a consumir com parcimónia e de acordo com as necessidades básicas, transformou-se numa Mercadoria, uma fonte de negócio. Pode-se consumir desregradamente, encher piscinas e lavar desalmadamente uma frota automóvel, desde que se tenha dinheiro e, ao mesmo tempo, conviver com a situação de que ela falte aos mais pobres para cozinhar e fazer a higiene.
Assim, o regresso da Água ao Controlo Público é uma exigência. Não para satisfazer qualquer plano político ou clientela partidária, mas para garantir aquilo que só não é uma evidência para quem tem a mente toldada pelo grau-zero de sensibilidade social: o Direito à Água é um Direito Básico a que todos os humanos devem ter acesso. Sim, um Direito Humano, porque um “cliente” só tem direito àquilo que pode pagar.
Acabei de me posicionar em relação ao tema, debruçar-me-ei agora sobre uma situação concreta:
Há poucos dias fiz uma intervenção na Assembleia Municipal, em 28 de Setembro de 2012, onde solicitei a intervenção da Sra. Presidente da Câmara ( por impedimento desta, na pessoa do vereador André Martins) no sentido de esclarecer algumas situações que se referem à forma como a empresa Águas do Sado vem tratando os consumidores do nosso concelho. Abro aspas e revelo o teor dessa intervenção:
“Chegou ao meu conhecimento que a Águas do Sado, escudando-se numa lei que protege os interesses das empresas quanto ao ritmo com que são feitas as leituras dos contadores, está a confirmar os consumos a intervalos de tempo cada vez mais distantes entre si.
Esclareço: não me estou a referir a locais de consumo cuja leitura dos contadores tem algum tipo de impedimento, arquitectónico ou outro.
O que está a acontecer é que muitos cidadãos, quase todos de fracos recursos e na maioria idosos, têm visto disparar o preço de um bem de primeira necessidade, como é a água, para valores incomportáveis para o seu orçamento mensal. Apenas porque, menos avisados, não telefonam ou vão dar leitura mensal à empresa. Dito de outra forma, não se substituem à obrigação do concessionário detentor do serviço de abastecimento de águas de fazer a leitura dos contadores a intervalos de tempo razoáveis.
E, o pior: esta situação de lançar os consumos de vários meses numa só factura tem como consequência directa a subida de escalão de consumo e o aumento de todas as taxas a ele associadas. O que leva a uma pergunta que não sou só eu que faço: estamos perante um “desfuncionamento” ou expediente?
Para desfazer esta dúvida, é minha obrigação solicitar-lhe:
- Que indague junto da empresa Águas do Sado qual é periodicidade efectiva com que os seus serviços estão a fazer as leituras dos contadores de água dos consumidores;
- Que confirme, ou desminta, junto daquela empresa, a informação que me chegou de que a quantidade de funcionários a quem compete a leitura dos contadores dos consumidores é cada vez menor e com áreas geográficas atribuídas cada vez mais alargadas;
- E, finalmente, que esclareça porque razão os valores de consumo de vários meses são imputados numa única factura, como se de um único mês se tratasse, sem se estabelecer uma média no cálculo dos escalões e taxas associadas.”
Fecho as aspas. E fico, como muita gente neste concelho, a aguardar explicações.
José Tavares da Silva,
Deputado municipal,
eleito pela lista do Bloco de Esquerda

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