20.8.12

Morrer para tentar "participar"


A somali Samis Yusuf Omar,
de Pequim à morte numa balsa

A atleta africana tentava chegar à Itália para treinar e participar em Londres 2012

A somali Samia Yusuf Omar comoveu o mundo com a sua corrida nos 200 metros nos Jogos Olímpicos de Pequim, onde chegou em último lugar demonstrando o verdadeiro espírito olímpico. Mas não conseguiu repetir a sua participação em Londres, pois morreu na tentativa de chegar de barco à costa italiana.
A triste história de Samia ocupa hoje as primeiras páginas dos meios de comunicação italianos que, citando as declarações de alguns dos seus compatriotas somalis, asseguram que a atleta embarcou na Líbia para a Itália buscando uma nova vida, mas morreu na travessia.
O corredor de meio-fundo Abdi Bile somali, medalha de ouro nos 1500 metros no Campeonato Mundial em Roma, em 1987, foi encarregado de contar à imprensa durante uma reunião do Comité Olímpico Nacional da Somália o que aconteceu a essa menina de 17 anos que comoveu as bancadas do estádio olímpico de Pequim que aplaudiram a sua chegada solitária com 10 segundos de atraso em relação às outras atletas.
"Foi uma bela experiência, carreguei a bandeira do meu país, desfilei com milhares de atletas do mundo", disse Samia ao chegar a Mogadíscio depois da sua experiência olímpica. 


Samia Yusuf continuou a treinar apesar de todas as suas dificuldades 

Pesem todas as dificuldades do estádio Olímpico em ruínas da capital da Somália, por ele teria continuado a treinar-se duramente para voltar a participar nos Jogos Olímpicos.
O treinador de Sami, Mustafa Abdelaziz, confirmou ao Corriere della Sera [jornal italiano] que a atleta embarcou este Verão numa balsa para tentar chegar a Itália e continuar a sua carreira devido à falta de fundos no seu país. A sua mãe, explicou Abdelaziz, vendeu inclusive um pequeno pedaço de terra para financiar a sua viagem para que ela pudesse realizar o seu sonho e ter uma vida longe das guerras e da insegurança.
"Os sobreviventes dessa viagem comunicaram a lista de pessoas que morreram durante a travessia e ali estava o nome dela (...). Ficámos paralisados. Sabíamos que a viagem para o Ocidente é perigosa, mas não podíamos imaginar que ela seria uma das suas vítimas ", disse Abdelaziz


Só com 17 anos participou nas Olimpíadas de Pequim

Samia nasceu em 1991. Era a mais velha de seis irmãos, filha de uma vendedora de fruta, o seu pai morreu num dos muitos conflitos que assolam o país. A sua paixão pelo desporto levou-a ao atletismo, mas também à natação e ao basquetebol.
Em Maio de 2008, Samia foi campeã africana dos 100 metros e com apenas 17 anos desembarcou em Pequim para fazer jus ao lema do barão Pierre de Coubertin: o importante não é ganhar mas participar. O Mar Mediterrâneo acabou com todos os seus sonhos. 

 
Traduzido e adaptado por  
CausasPerdidas
(O Sono do Monstro)

Sem comentários: