O aparecimento das edições digitais dos jornais tem permitido a interactividade dos leitores com as notícias, isto é, quem lê as notícias pode contestá-las, corrigi-las até, ortográfica ou cientificamente - já não é o primeiro caso em que notícias são alteradas mercê de chamadas de atenção de quem as lê, o "Público" é exemplo disso, especialmente na área científica, com notas do redactor a confirmar e a agradecer a intervenção dos leitores.
Modernamente a "Galáxia Digital" já permite que blogues e outros programas "linkem" (façam ligação) para as moradas electrónicas das notícias, amplificando desta forma a audiência de quem as escreve. Tal coloca desafios no que toca à forma como se gere o espaço de participação do público.
Há jornais onde os comentários então reservados a leitores devidamente pré-registados, como o "Expresso". A edição digital deste semanário permite que um leitor registado possa ter um pseudónimo à sua escolha. Outros preferem que o comentário se faça livremente sem registo, mas todos gravando os IP (moradas digitais) de quem utiliza as caixas de comentários. Qualquer origem de um comentário pode ser técnica e automaticamente identificada e bloqueada, o anonimato, esse, só funciona para quem lê.
Um parêntesis. O anonimato e a utilização de outros nomes ("nickname") é uma questão que levanta discussão. Mas se pensarmos que na Internet uma assinatura de um comentário com o nome de "Pascoal Silva" tem tanto valor como "Gambozino" (quem nos diz que "Pascoal Silva" é um nome verdadeiro?), estamos perante um mundo em que a credibilidade da mensagem tem a ver com a forma como é apresentada e a quantidade de vezes que é aceite e repetida, mais do que com a sua origem. Isto é, se uma notícia falsa for difundida em muitos locais será mais verdadeira do que aquela, em sentido contrário mas verdadeira, que foi reproduzida por poucos media. Sendo que em matéria de notícias e opinião uma das componentes tradicionais e decisiva para a sua credibilidade era a sua origem, ou fonte, isto significa que algo mudou na forma como consumimos informação. O leitor tem de estar cada vez mais atento e informado (mais culto?) para gerir a quantidade de informação que lhe chega. Pescada de rabo na boca: voltamos ao início do parágrafo e apercebemo-nos que em matéria noticiosa tudo é cada vez mais relativo. Como se não bastasse, os media acentuam cada vez mais a tendência de nos darem somente as notícias que "nós queremos" ver, porque ao lado de uma boa notícia, "má" ou "boa", há sempre um anúncio publicitário.
Os jornais e tevês "responsáveis" assinam e difundem cada vez mais notícias que não são produzidas por eles mas por uma ou duas centrais de informação mundiais, sendo que na maioria das vezes aceitam tudo como está, nem questionam a veracidade do que reproduzem tal como o "totó" que reencaminha mensagens de e-mail sem indagar da sua veracidade. Lembremo-nos da Guerra do Iraque e da mentira montada pelos serviços secretos americano e britânico que os media de todo o mundo "mamaram" candidamente como bebés. E, sim, também esteve em causa que a maioria dos media partilhou da mesma agenda (olhe-se o caso anedótico de Manuel Fernandes, director do "Público"), mas isso é outra conversa. A conversa era sobre caixas de comentários do jornais e a ela regressarei.
Depois do "Diário de Notícias" ter deixado as caixas de comentários terem-se transformado em autênticos esgotos onde imperavam comentários racistas, xenófobos e homofóbicos, mas onde, curiosamente, havia um filtro automático que não deixava passar palavras como "nazi" e "fascista", e depois desta situação reles e pouco abonatória desse centenário jornal ter sido alvo de uma recomendação da ERC (a que, entretanto, a Direcção Editorial decidiu não dar provimento, manifestando-se contra a "censura prévia" e passando os comentários dos leitores a serem geridos pelos próprios leitores, "cada comentário que receba 10 denúncias de leitores diferentes (este número poderá vir a ser ajustado em função do que a experiência vier a ditar) será automaticamente apagado"), reparei que no "Público" também houve alterações, com os comentários a serem validados não automaticamente mas por alguém que não sei se é jornalista, estagiário, ou o que o valha. A primeira consequência, e mais contestada pelos leitores, é a de que os comentários demoram mais a aparecer, um preço "barato" para uma Liberdade direi eu. Mas uma liberdade que tenho reparado muito... selectiva.
Desde há algum tempo que leio que no "Público" é mais fácil publicar comentários racistas, caluniosos e de ódio do que a sua contestação. Que se faça o exercício de ler o tipo de linguagem permitida nos comentários às notícias referentes a Francisco Louçã e a Jerónimo de Sousa, por exemplo, e compare-se com a lisura existente nas caixas de notícias sobre o governo e políticos de Direita. A malta de Esquerda é mais educada e é isso que a selecção demonstra, ou...
Leia-se o que aqui se escreve depois da notícia (link para o "Público") e perceba-se porque o comentário (que nos foi enviado e se reproduz) na imagem abaixo nunca foi publicado.
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