Comparar os Direitos dos Animais com os Direitos Humanos não
é produto da mente (doentia, acho eu) de quem se apieda mais depressa por um
gato vadio do que por um miúdo sem abrigo a quem a natureza não ensinou a caçar
“ratos”. Muito menos dos que “comparam as touradas às agressões a mulheres”, um
argumento que incomodou o Daniel.
Não se faça desentendido: uma tourada não é só um divertimento inocente com os bichos, uma espécie de rambóia com o cão… é uma representação, bem gráfica, de Valores. Ou marialvismo e machismo, não lhe dizem nada? Não veja na Tourada só a beleza das palavras de Hemingway.
Quem faz tal comparação é quem mede a importância do sofrimento infligido consoante a capacidade do ferido reagir à dor.
Talvez isso explique por que um amante de touradas tenha o seu cão
em tão boa conta que não se lembre de experimentar sobre o dorso do canídeo a
sua paixão à laia de um puto que dá um pontapé numa caixa de cartão e grita “golo,
ou que o feroz anti-touradas vá à sua vida deixando o seu animal preso no apartamento
a ganir o dia inteiro, dando conta da cabeça dos vizinhos. Longe dos ouvidos,
longe do coração. Se os touros fizessem um eco bem audível do seu sofrimento, a
tourada teria menos piada, até o mais empedernido se questionaria se a tradição
não deve mudar de acordo com a percepção que vamos tendo sobre as consequências
dos nossos actos sobre as outras espécies.
É que até a qualidade do matador de
porcos à moda tradicional se mede pela capacidade de matar o animal de uma só
estocada, para não lhe dar sofrimento desnecessário – aqui, quem se entretenha
com acto, tem um nome: sádico.
Quanto ao essencial da sua crónica, já alguém aqui alguém perguntou, e bem, se o parlamento não tem autoridade para questionar o que passa nas televisões (não só na RTP). Não foi o parlamento que legislou a proibição da publicidade ao tabaco? Fê-lo bem! Olhe, até sou fumador.
Não entre pelo apoio das câmaras municipais: Em Setúbal (executivo do PCP), pagou-se pela montagem de uma praça de touros e do espectáculo para duas horas(?) mais do que custa o Festival de Teatro local que dura quinze dias… numa cidade sem a tradição tauromáquica dos concelhos vizinhos. Nada de novo, já o PS havia enfiado a martelo a “tradição” das marchas populares, coisa que o Estado Novo não havia conseguido. Uma indústria.
A tradição… deixemo-nos de tretas, é aquilo que os poderes (comunicação social incluída) querem. Lembro-me de um Professor, bem conservador aliás, que disse perante a “promoção” das capas negras, numa escola a centenas de quilómetros de Coimbra: Eis os fabricantes de tradições.
Deixe que lhe diga que não sou vegetariano mas que me interessa a forma como são criados os animais que consumimos. E que o que opiniei sobre Setúbal também é válido em Salvaterra de Magos, se tal discrimação cultural ocorrer. Esta, porque votei no Bloco de Esquerda.
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