20.4.12

Jornalismo ou buraco de fechadura?

Mais uma pérola do jornalismo contemporâneo escarrapachada nas páginas do "Expresso" que, aliás, não foi o único órgão de comunicação que da recém-publicada biografia "Otelo, o Revolucionário", do jornalista Paulo Moura, não conseguiu tirar nada mais interessante que um pormenor da vida privada do Capitão de Abril.
O que motivou o comentário que a seguir se transcreve:

"Realmente, muito interessante, uma notícia de interesse público inestimável! Andais a reinar no "Expresso", não andais? Pertenceis ao mesmo grupo que introduziu o tele-lixo às toneladas na televisão (não culpem a TVI, eles nessa altura acabavam a emissão com uma homilia do Padre Melícias!) mas... algo que é ensinado a qualquer estudante de Comunicação Social, logo no 1º ano:
Como não consta que Otelo tenha alguma vez dissertado acerca das virtudes da monogamia, o facto de ter "dois amores" é coisa do foro privado, não tem interesse público. Se quiserdes, idem sobre Paulo Portas e a homossexualidade, porque o senhor nunca teceu qualquer tipo de juízo de valor sobre o assunto.
A não ser que um jornal "de referência" se queira tornar num buraco de fechadura.
Assim: deve-se denunciar os que falam dos direitos das mulheres e agridem as esposas no segredo do lar, os que são contra as drogas e as consomem... e por aí adiante. Percebida a diferença?
É assinalável que a poucos dias de 25 de Abril o "Expresso" não descubra na fonte que enunciou outra coisa mais interessante que uma relação com duas mulheres... Depois admirem-se se os leitores levarem até às últimas consequências a caricatura que fazeis da política e da realidade. A realidade é chata, confronta o desiderato editorial que levou ao subliminar apoio dos candidatos que agora são governo. Todavia, tal como o outro que dizia que "se quiser uma mensagem vou aos correios", quem quer "fugas" não compra um jornal."

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