Mais uma pérola do jornalismo contemporâneo escarrapachada nas páginas do "Expresso" que, aliás, não foi o único órgão de comunicação que da recém-publicada biografia "Otelo, o Revolucionário", do jornalista Paulo Moura, não conseguiu tirar nada mais interessante que um pormenor da vida privada do Capitão de Abril.
O que motivou o comentário que a seguir se transcreve:
"Realmente, muito interessante, uma notícia de interesse público
inestimável! Andais a reinar no "Expresso", não andais? Pertenceis ao
mesmo grupo que introduziu o tele-lixo às toneladas na televisão (não
culpem a TVI, eles nessa altura acabavam a emissão com uma homilia do
Padre Melícias!) mas... algo que é ensinado a qualquer estudante de
Comunicação Social, logo no 1º ano:
Como não consta que Otelo tenha alguma vez dissertado acerca das
virtudes da monogamia, o facto de ter "dois amores" é coisa do foro
privado, não tem interesse público. Se quiserdes, idem sobre Paulo
Portas e a homossexualidade, porque o senhor nunca teceu qualquer tipo
de juízo de valor sobre o assunto.
A não ser que um jornal "de referência" se queira tornar num buraco de fechadura.
Assim: deve-se denunciar os que falam dos direitos das mulheres e
agridem as esposas no segredo do lar, os que são contra as drogas e as
consomem... e por aí adiante. Percebida a diferença?
É assinalável que a poucos dias de 25 de Abril o "Expresso" não
descubra na fonte que enunciou outra coisa mais interessante que uma
relação com duas mulheres...
Depois admirem-se se os leitores levarem até às últimas consequências a
caricatura que fazeis da política e da realidade. A realidade é chata,
confronta o desiderato editorial que levou ao subliminar apoio dos
candidatos que agora são governo. Todavia, tal como o outro que dizia
que "se quiser uma mensagem vou aos correios", quem quer "fugas" não
compra um jornal."
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