O novo governo, ainda em "estado de graça" - como diz a gíria jornalistica -, decidiu-se por um aumento "colossal" nos preços dos Transportes Públicos, nalguns casos fala-se que o tarifário poderá aumentar cerca de 20 por cento. Assim, aqueles que utilizam ou preferem os transportes públicos verão o preço da sua mobilidade aumentar exponencialmente.
Sendo que grande parte da utilização dos transportes se faz nos sentidos de ida e volta para o trabalho, trata-se de uma forma indirecta de redução dos salários dois trabalhadores para subsidiar empresas subfinanciadas, mal-financiadas... e quase todas mal-geridas ou dirigidas às avessas de quem utiliza os seus serviços. Mau serviço, não há utilizadores; não há utilizadores, mau resultados das empresas. Uma espiral que abona sempre a favor do transporte privado, dos engarrafamentos, da dependência energética e do tempo estúpido passado nas bichas de acesso às grandes cidades.
Pelo caminho, a história da dívida das empresas públicas de transportes públicos. Há algo muito mal contado quando se compara o desempenho das empresas públicas com o das empresas privadas: os privados só fazem as carreiras que lhe interessam. Exemplo? Reparemos no caso da Fertagus que gere comboio que liga Lisboa a Setúbal, via ponte 25 de Abril: em grande parte do seu horário de funcionamento, só dispõe de carreiras para as paragens com mais "clientes", de Lisboa até Coina, deixando Setúbal, Palmela, Pinhal Novo mal servidos com composições de hora a hora... Alternativa: o autocarro - cujas carreiras, que giro!, pertencem à mesma empresa mãe...
Por outro lado, falar da dívida dos transportes públicos sem falar das compensações, definidas por lei, não pagas atempadamente, da venda de sectores rentáveis das empresas (o transportes de cargas pela CP, por exemplo) e a entrega das linhas mais rentáveis e com possibilidades de crescimento a empresas privadas, dos mini-monopólios regionais por parte de algumas empresas que resultam em maus serviços globais (Fertagus e TST, em Setúbal, para exemplificar), e ainda da nomeação política de gestores atirando para cima dos contribuintes a falta de critérios de competência... para não lembrar as "parcerias" que garantem a renda fixa mesmo sem a utilização das vias rodoviárias... e, em consequência deste negócio um outro, o do abatimento da perspectiva ferroviária como solução para o transporte de pessoas e bens, em beneficio do transporte rodoviário privado de mercadorias... Isto é, reduzir tudo ao "passivo" das empresas, sem ver o passado de destruição de áreas rentáveis que lhes foi subtraído, o passivo ambiental, o tempo desperdiçado em bichas, o pagamento de combustível ao estrangeiro e o que resulta em desperdício disso tudo na aposta na via privada, é pura demagogia.
Porque razão os transportes públicos em Portugal são comparativamente mais caros que os seus congéneres estrangeiros, e funcionam pior, não são perguntas que se façam? Pode ser tudo assacado às "greves" e aos salários? - "divertem-se" com muito pouco os nossos liberais de pacotilha... Por que razão esses trabalhadores ganham mais no estrangeiro? "Porque as empresas são rentáveis"... Pescada de rabo na boca!
Gerir os transportes colectivos como fez a Thatcher, deu os resultados que deu: mais transportes individuais nas cidades, congestionamentos monstruosos, perda de qualidade do ambiente urbano, zonas citadinas e rurais sem transportes e até a segurança ferroviária posta em causa.
E lá vem a lengalenga de que os do Minho não têm de pagar os transportes de Lisboa e os do Algarve os do Porto... Devem ficar satisfeitos quando vêem na televisão o fecho de mais um posto de saúde numa localidade do interior que serve não centenas mas dezenas de pessoas... Eu não. É o despovoamanto estúpidos!
Como se as autoestradas onde circulam alegremente fossem pagas só pelo popó deles.
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