Primeiro: de referir a ignorância da comunicação social que não sabe distinguir uma Greve de um Lock-out. Um Lock-out é uma paralisação feita por patrões, um auto-encerramento da empresa, normalmente utilizado como forma de coagir trabalhadores a aceitarem salários mais baixos. Antigamente era proibido constitucionalmente, agora, face a tantas e "democráticas" revisões da lei fundamental, já não sei.
Continuando. Em nenhuma altura desta "greve" o pessoal dos microfones questionou os “grevistas” se pagariam aos seus trabalhadores a paralisação que os obrigaram a fazer. Nem tivemos os habituais “apontamentos de reportagem” sobre os malefícios da “greve”, e nada sobre o terror que semearam sobre os assalariados que conduziam viaturas de propriedade alheia - isso é coisa que fica para os piquetes de greve das verdadeiras greves. E notório: quase nenhuma possibilidade de expressão dos representantes dos sindicatos dos trabalhadores do sector.
Se bem me lembro, as reivindicações dos grevistas eram o “gasóleo profissional” (ainda me lembro, também, como este satisfazia os motores de muitos BMW e Mercedes de fim-de-semana), as portagens (aqui, sim, podia-se transigir em relação ao transporte de mercadorias – mas, depois, como é que as concessionárias apresentavam os lucros que apresentam?). E, como não podia deixar de ser, a tal estória da “legislação do trabalho” (um dos patrões do protesto queixava-se do excesso de direitos quando ao tempo de descanso obrigatório) como se ninguém visse as condições em que alguns dos desgraçados dos seus “colaboradores” conduzem os veículos!
Feito o acordo com o governo, anunciado por "mera casualidade" quando Sócrates era entrevistado num canal televisivo, estou curioso em saber quem vai pagar parte da factura. Até aposto!
É de referir que a culpa de um país estar refém destes interesses está no paradigma do transporte rodoviário que o cavaquismo inaugurou, do destroçar da rede de caminhos-de-ferro nacional e também do facto, menos observado pelos especialistas, dos locais de produção de artigos alimentares estarem cada vez mais longe dos consumidores acompanhando o recuo dos campos em redor das cidades e a ruína do pequeno campesinato.
Para além disto tudo: patrões de camionagem em “greve” fazem-me comichão na memória - sem pretender comparar o reformista Allende do Chile de 1973 a esta amiba social-liberal que nos governa.
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