"Jornal “Público” abre programa de rescisões com trabalhadores", título do "Expresso".
O "Público" começou com Vicente Jorge Silva, contava com gente como Fernando Dacosta, que o tornou o melhor jornal português, mas perdeu credibilidade quando puseram o propagandista do ultra-liberalismo (para ser piedoso) José Manuel Fernandes como director, uma opção mais ideológica do que jornalística. A tarefa de tentar recuperar a credibilidade mortalmente ferida do jornal, aquela que tem enfrentado a actual directora, Bárbara Reis, não tem sido fácil. Os danos foram demasiados.
Todavia, hoje, e apesar de tudo, ainda será o melhor jornal português, a começar pelo leque mais abrangente de comentadores, passando pela área científica, de crítica de cinema e acabando na abordagem dos assuntos de forma menos "televisiva". A forma de moderação das caixas de comentários pode ser discutível mas evita de alguma forma que se tornem num esgoto como as da maioria dos jornais, este inclusive [1].
Pertencendo a um grupo económico, o jornal está incluído na sua estratégia de "marketing", de prestígio junto de um público específico. Não sendo a "Dica da Semana", nem vivendo de escândalos e do voyerismo, ou de motivações políticas politicamente indisfarçáveis, o "Público" estará sempre dependente dos resultados económicos. Só que, pescada-de-rabo-na boca, estes resultados não se conseguem sem leitores, e para haver leitores tem de haver prestígio e jornalistas dignos desse nome.
Temo que o "Público" com menos jornalistas tenha ainda mais dificuldade de viver como projecto sério de jornalismo.
Chamo "projecto sério de jornalismo" um projecto que não se limite a reproduzir os produtos das centrais noticiosas internacionais - no limite, como nas redacções televisivas, a usar produtos fora de prazo do "youtube" como "fontes".
A cada jornal que morre a Democracia encolhe.
(Há uns que se desaparecessem aconteceria exactamente o contrário, mas eu não me quero alongar...)
[1] Este texto reproduz um comentário à notícia no "Expresso"]